sexta-feira, 30 de julho de 2010

Santa

sabia, como ninguém, sair
ilesa das farpas

fugia da culpa
como diabo da cruz

de vestido vermelho,
desconversava. de amarelo,
um sorriso aprontava

o semáforo verde
após mostrar a
calcinha

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Todo azul do mar





olhar para a Flávia
foi como ouvir o Flávio

foi assim
como ver o mar

mergulhei
no mar azul desse olhar

e me afoguei
sabia que era amor.

sábado, 24 de julho de 2010

Dia do amigo

Não importa o quanto você não se importe. algumas pessoas, simplesmente se importam. Lucas, simplesmente, abominava tudo isso. utilizava seus grandes olhos negros de poeta triste para recriminar a todos. principalmente a sua chefe, uma velha sozinha, solteira, resmungona, que morava com a mãe e um pincher na Tijuca. e que passara a manhã inteira ligando para os outros e lhes desejando um feliz dia do amigo. até para as suas vizinhas, que nunca eram lembradas, mesmo quando se esbarravam pelo corredor, e não se permitiam um simples bom dia, fez questão de se desculpar pela vida conflituosa que levava com a mãe e seu cachorrinho. nenhuma delas a reconhecia pelo telefone.
Lucas não estava contente com esse dia, e não suportava quando alguém do seu trabalho vinha lhe desejar um "feliz dia do amigo" com a mão estendida, insinuando um aperto de mão. um sinal de acordo e de paz como faziam os grandes líderes políticos. e ele era obrigado a retribuir o gesto. mas já no final do expediente, recebera uma msg misteriosa pelo rádio com os seguintes dizeres: "amadoro". o que era aquilo? amadoro? amador? ficou algum tempo olhando para o seu rádio aberto. não conseguia identificar o número do mensageiro, pois seu rádio não era habilitado para isto. pensou ser obra de seus colegas sacanas do trabalho. mas aí recebera outra msg logo em seguida. e a sacanagem tinha um começo: "A amizade não tem preço. Mas você vale ouro. Feliz dia do amigo! te..."
Lucas praticamente se perdeu nessas palavras. não respondia mais a nenhum estimulo que viesse de fora, da sua chefe, de seus colegas, dos e-mails... levou um tempão para voltar à realidade. e quando voltou, resolveu ir atrás do autor dessa msg.
primeiramente, recorreu ao seu tio, um velho calmo e sábio, porém esquecido. que diariamente lhe mandava mensagens, mas esquecia que o sobrinho não poderia respondê-las por não identificá-las. antes, de forma amigável, Lucas daria-lhe um esporro regular, pela insistência em mandar as msgs. "era perda de tempo" - diria. e depois, agradeceria pelas palavras. mas seu tio não respondeu por isto. não por esta. e Lucas sentiu-se obrigado a ligar para os mais próximos.
ligou para as suas amigas, para a sua mãe, para os irmãos..., na intenção de capturar o autor, perguntava a todos com um enorme ar de alegria e de convicção: "você me mandou uma msg pelo dia do amigo né? pode confessar! eu adorei!". mas nenhum deles se acusava. e mesmo desapontado, Lucas desejou um feliz dia do amigo a todos, da mesma forma.
ao término do expediente, Lucas já estava chegando à conclusão de que havia participado de um grande equívoco. acabara de receber uma msg errada. mas, e daí?! aquilo já havia alterado completamente seu dia. Lucas já havia telefonado para Deus e o mundo. até para o dono de um "apertamento" bem arrumado, no bairro Peixoto, em copa, do qual ele havia acabado de conhecer e alugar. "A amizade não tem preço", "você vale ouro", "amadoro". essas palavras o atingiram tanto, que ele já se sentia um rei, em meio às pilhas de trabalhos acumulados. e não preocupava nem um pouco por isso. Satisfeito, voltou para a sua casa sentindo o verdadeiro peso de uma amizade, dos pequenos gestos amigáveis e das palavras ditas nas horas certas. retirou da mochila um bloco de papel em branco e uma caneta, e começou a escrever um lindo poema no parapeito da janela. iniciou o poema com a seguinte frase: " Não importa o quanto você não se importe. Algumas pessoas, simplesmente se importam". e Lucas, simplesmente, amadorou tudo isso. até o fim.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O Homem que nunca fez

Ele ainda era um rapaz quando recebeu a proposta de servir as forças armadas.Não que ele gostasse da carreira militar,mas porque ele iria por influência de um major que era padrinho do seu irmão.No quartel ,ter como um peixe grande um oficial com tal patente é quase ter um seguro de vida!A proposta era indispensável.

Passou alguns meses no quartel e recebeu a proposta de se tornar cabo do exército.Logicamente o salário de um cabo é superior ao de um soldado,e para ele,que só tinha 18 anos,ja era uma riqueza.Pra quem não tem nada,metade é o dobro.

Não pensou nem duas vezes e não aceitou o cargo;e ainda por cima pediu baixa.Claro,grandes poderes geram grandes responsabilidades.O salário de um cabo não é tão superior ao de um soldado e ficou sabendo que os mais graduados sempre ficavam para a última baixa (só nessas horas é que os soldados se benificiam.)

Qualquer um sabe que o quartel é quase uma prisão.Ele era jovem,valeria a pena comprometer a sua juventude por alguns trocados?e quanto valeria a sua liberdade?Desistiu da carreira militar.

Um belo dia enquanto passava pela a rua onde morava,viu alguns rapazes animadosconversando com um senhor ainda mais animado que eles.Aproximou-se para ver o que é que estava rolando e descobriu que aquele senhor estava ali a procura de jovens que quiséssem trabalhar,precisava de jovens garotos que quiséssem trabalhar como menssageiros.O salário de um menssageiroé menor do que de um soldado mas a possibilidade de subir de cargo era alta,disse o senhor.

Pessoas custumam dar doces nas ruas em dia de Cosme e Damião mas ninguém sai pelas as ruas distribuindo empregos.Avisou aos seus amigos que aquilo era loucura,papo furado,e das certas,não caiu naquela conversa fiada.

Só depois veio saber que aquele humilde banco havia se tornado o banco do Brasil,e aqueles loucos que aceitaram o emprego,hoje se tornaram gerentes,na pior das hipóteses.

Ainda não havia perdido as esperanças de conseguir um bom emprego com um salário digno.Enquanto isso,arrumou um emprego que não era em nenhum banco mas ele precisava de alguns trocados.

Em uma noite,quando chegava do trabalho,encontrou o padrinho de seu irmão sentado em sua sala conversando com a sua mãe,aquele mesmo major que tinha lhe oferecido uma proposta,ele estava ali,outra vez lhe esperando,para oferecer uma segunda proposta.

Ele tinha a sorte,toda a sorte do mundo de ter o padrinho te teu irmão que lhe adorava tanto.Assim como ele, o velho major não havia desistido do rapaz.

A nova proposta era de um emprego em uma empresa humilde,que busca petróleo no Brasil.Peraí,buscavam petróleo no Brasil? isso só poderia ser mesmo coisa do nosso presidente Getúlio Vargas.

Não poderia trocar o certo pelo o duvidoso.Ele já havia aprendido no quartel que um tiro bem mirado é sempre um tiro certeiro.Valeria a pena arriscar-se?afinal,ele já estava trabalhando e largar um emprego para trabalhar em uma empresa que busca petróleo no Brasil é dar um tiro no escuro.Negou a proposta pela segunda vez só mais tarde ficou sabendo que a tal empresa achou mesmo petróleo no país e venho a se chamar Petrobrás.

Mas não era só de trabalho que vivia o nosso protagonista.Ele também gostava de se divertir.

Juntou com uma galera da Tijuca,Lins,Méier e adjascências.Ia todo o final de semana para um bar com umas garotas bonitas e uns cabeludos.Um deles em especial,se chamava Roberto, e andava de um lado para o outro com um violão debaixo do braço.Chegava nas rodinhas e cantava a mesma música do calhambeque que havia criado,enchendo o saco e os ouvidos de todos os presentes.

O nosso protagonista pouco se importava com aquilo tudo de música.Quem consiguia viver de música no Brasil? ainda mais quando não se tem talento ou aptidão para ela.

"Segurança",como era conhecido pelo pessoal da turma,era um moreno alto e esbelto,e aproveitava enquanto os cabeludos tocavam e se divertiam com o violão,ele traçava todas as meninas brancas que com eles andavam.Pensava consigo mesmo:- quem pode se importar tanto com a música em um lugar onde sem tem muitas mulheres dando sopa?

A resposta veio alguns anos depois,quando ouviu a velha música do calhambeque nas radios e aquele mesmo cabeludo hoje considerado um rei para muitos brasileiros.

Foi assim também quando conheceu o Garrincha,os dois tortos,não só das pernas,dividindo as conversas e os problemas enquanto comiam pernas de rã.Ele com os seus chopps e problemas pessoais e Garrinhca com a sua cachaça e os problemas dele,cada um no seu quadrado.

Ele nunca foi famoso,a não ser pelas pessoas da rua ou do bairro onde morava;nunca conseguiu ser artista.O máximo que conseguiu foi se tornar síndico de prédio e presidente de uma escola de samba no Méier.

A escola era pequena e começou a prosperar.Passou a participar das grandes competições junto das outras escolas campeãs.Promovia bailes e rodas de samba onde muita gente importante e famosa comparecia.Conseguia juntar muitas mulheres e bebidas em um único lugar.

Ainda assim não se casou com nenhuma beldade importante.Conheceu uma mulher que não era famosa porém bonita,e que assim como ele,gostava de samba e de cerveja.Foi com ela com quem teve seus filhos e viveu toda a sua vida.

Desistiu da vida do samba.Já não se fazia mais samba como antigamente;e ele sentia o peso da idade,já não era mais um jovem mas sim um homem,e começava a caminhar para a fase do senhor.Queria aproveitar a vida de aposentado.

Trabalhou por 30 anos como carcereiro em um presídio em Ilha Grande e quando descobriu que o Dr. Drauzio Varella havia passado 10 anos no presídio do carandiru e escreveu um livro,pensou,se ele também não poderia escrever um livro igual ou até mesmo melhor do que o do doutor.Pra quem trabalhou durante 30 anos em um presídio como o de Ilha Grande em uma época pós-ditadura, tinha muitas histórias para escrever não só um livro,mas dois livros.Mas não escreveu.

Foi assim desse jeito,que ele foi escrevendo a sua própria história.Foi fazendo as escolhas erradas que foi encontrando os caminhos certos.Não precisou ser famoso ou ser rico porque a sua maior riqueza eram as suas histórias,as lembranças,os amigos,a família.

A única coisa que fez foi contar suas histórias e sua vontade de escrever um livro a doi jovens e fazer as suas cabeças.Sem saber que eles mais tarde se tornariam grandes escritores e ele,viraria tema de suas poesias e contos.

O homem que nunca fez,nunca conseguiu ler este conto,porque ele morreu em uma noite fria e chuvosa,sentado na varanda,enquanto olhava para o céu e escolhia a sua casa,que ele nunca conseguiu construir nas estrelas.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

(ins)piração

a beleza é como
algo sutil

que entra pela janela
da alma abanando o rabo
deita e ocupa quase

a metade do travesseiro
- tem cheiro de tosa -
é como verme de ouvido

entrando no lugar errado
- esse lado do peito, tá
ocupado?

leva segundos para notar
que de repente você já
está cantando

de novo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ingressos UNIvitelinos: Eu apoio!

Após uma ligeira, uma quase invisível, olhada na revista Megazine, que sai às terças no jornal O Globo, constatei algo extremamente significante para a minha dupla personalidade:

"...E a noite ainda tem outras dobradinhas imperdíveis como dose dupla de caipirinha a noite toda e entrada única para irmãos gêmeos."

(revista Megazine 13/07/2010_Matéria: bora dar um dance hoje?)

Uma festa com entrada única para irmãos gêmeos? Como assim?!
Já imaginaram se essa onda pega?

(Clone nunca mais ficará na minha aba!)

Levantarei aqui uma forte campanha de apoio para dar continuidade a esse processo!
Ingressos ÚNICOS para gêmeos já!

Eu apoio!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Freud




a minha neurose
é o que me fode!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Hipnos

Eu nunca aprendi
a dormir

pras outras coisas da
vida eu viro de
lado
e finjo
que durmo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

ID

(Para o clone)


já era noite
e o vento frio do bairro
balançava os cabelos da mulher

que dorme comigo
todas os dias

quando você me perguntou
porque é que você não lê
Jung?

quando você me disse
Nietzsche eu respondi
saúde!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sonâmbulo

Psiu
o que ?
Psique

acorda
pra vida

vê se me erra
Eros

fazer o que?





Brenowski