terça-feira, 27 de novembro de 2012

qual é a cor dos seus olhos?




uma vez eu assisti a um documentário concebido pela BBC
(uma letra a mais e você não se confunde com um outro programa, o BBB).
chamado, se não me falha a memória, “o corpo humano – o poder do cérebro”; onde cientistas tentam decifrar a mente humana.
men tira.
os homens nunca entenderão o cérebro. o cérebro nunca entenderá o homem. ninguém se entende, entende?

em uma parte do documentário, eles nos informam que os olhos são de fato “a janela da alma”. arregalei os olhos, é claro. os educandos entenderam também o motivo.
(descobri que eu aprendo mais dando aula do que recebendo aula).
podemos dizer que os olhos são um prolongamento de nosso cérebro. as imagens que enxergamos é rapidamente capturada pelo nosso cerebelo, ou pequeno cérebro.
(“O cerebelo influencia no equilíbrio, propriocepção q precisamos para realizar a marcha, coordenação dos movimentos,cálculo das forças da marcha (largura do passo, distancia, altura), aprendizado motor (regula o movimento e os torna automáticos).
(...)É o comparador e o corretor de erros. Cada vez q realizo um determinado movimento, se este não for satisfatório, o cerebelo compara os erros e refaz o movimento, para q ele possa ser melhor realizado da próxima vez.”).

sendo assim, fico me perguntando com os meus olhos:
- a cor dos nossos olhos revelam nossas almas?
(cientista nenhum conseguiu descobrir, entende?...)

os meus olhos, por exemplo, tem se habituado a mudarem de cor.
eles mudam de cor, ou eles apenas refletem as dores do mundo?
(digo, cores).
hoje eu acordei com eles em tom de cinza, como o tempo, e não como o livro.
passei o dia com cara de dia nublado.
aproveitei a segunda-feira mórbida para assistir à uma peça de teatro onde um amEGO está atuando – o giancarlo di tommaso.

apesar da segunda-feira chuvosa; apesar de não ter nenhuma lanchonete perto do teatro para os famintos que saem direto do trabalho; apesar da bilheteira não ter chegado na hora; apesar dela não ter troco; apesar do bar estar fechado; eu não deixei com que os meus olhos escurecessem.
(acho até que todo esse clima já estava fazendo parte da peça, já que ela começa assim, num piscar de olhos).

“meus olhos são da cor que você quiser” ,  texto de vitor barbaris, é recheado de palavras que vão ganhando cores, literalmente, durante todo o espetáculo.
dois atores
(o duplo: um homem & uma mulher)
são o suficiente.
giancarlo di tommaso &
(você pode conferir seu trabalho como ator no filme que está em cartaz “ gonzaga – de pai para filho”).
déborah kalume
(que trabalhou nas novelas “negócios da china” & “malhação”; e nos filmes “o homem que desafiou o diabo” & “nossa senhora de caravaggio”)
são dois bons atores, diga-se de passagem, que não deixam a peça descolorir.

ela tem os olhos verdes – cor essa preferida daqueles que são teimosos e querem impressionar, de acordo com as pesquisas feitas por um dos maiores pesquisadores mundiais sobre cores
(dizem),
o psicólogo suíço max lüsher.
ele tem os olhos pretos – cor essa que assim como o cinza e o marrom, é indicador, geralmente, de uma atitude negativa perante a vida.
(de acordo com os meus estudos do mesmo pesquisador).

o casal passa toda a peça num sótão.
ele, com a sua negatividade negra, aprisiona ela, dona dos olhos verdes, na teimosia de tentar impressiona-la.

daniel pereira (diretor) e alejandra tarin (cenógrafa),  criam o ambiente perfeitamente sujo, com cores marrons e pouquíssima luminosidade.
neste cenário de big brother sartriano,  claudia & kinhu, são obrigados a conviverem juntos
(ela mais do que ele)
enquanto claudia tenta recuperar a sua memória; ora no escuro, ora com a ajuda das palavras que acendem nas paredes.

e antes que eu comece a tentar colorir & entender toda a peça, eu posso garanti-los que no final do espetáculo sai com os olhos brilhando.

o teatro é a metalinguagem da vida.
teatro é relação.
todos nós somos personagens usando máscaras. estamos o tempo todo tentando entender o que o outro personagem irá fazer na cena seguinte.
por isso, quando você resolver olhar nos olhos de uma outra persona, veja se você não está pintando-a com cores erradas.
(se é que dores erram.
digo, cores).

"meus olhos são da cor que você quiser" está em cartaz no solar de botafogo
(localizado na rua general polidoro, n°180)
às segundas & terças, às 20hs. no valor de R$30,00 (inteira) & R$15,00 (meia).
o espetáculo estará em cartaz até o dia 18/12.

vá ao te at(r)o!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

in mundo como chagas & condenação




escorpião é um bicho sensual, não acham?
há algo neste aracnídeo de frágil & forte, ao mesmo tempo, que lhe faz ser temido pelos outros animais (principalmente os humanos). não pela sua aparência, mas pela sua arma poderosa.
(todo mundo fica poderoso com uma arma, não é verdade? tire o canhão do braço do megaman, por exemplo, e ele se tornará apenas um “man”).
com um único tiro - pow!- você foi infectado pelo seu veneno; que ao contrário da cobra (símbolo quase sempre vinculado ao falo),
injeta seu veneno pela cauda, ou como diriam alguns machos: RABO.

falei do escorpião porque lembrei que estamos astrologicamente em seu mês. durante este período, sofremos influências daquele que no mundo dos signos é quem vive no “submundo”.

lembro-me que nos jogos do megaman
(ou rockman, se você preferir a versão japonesa)
as fases sempre mostravam o “perfil” do vilão. àqueles que representavam algum animal marítimo, tinham as fases em que jogávamos debaixo d’água. o mesmo acontecia com os animais “aéreos”. sendo assim, poderíamos imaginar que durante todo o período de escorpião lutamos contra os impulsos que nos aparecem pelo meio do caminho até chegarmos de fato no “verdadeiro vilão” (signo esse que é facilmente interpretado como “vilão”):

“Apesar da fama que este signo possui, ele é muito mal compreendido, talvez porque ele próprio não faça nada para melhorar a sua imagem. De fato, ele se esconde atrás de uma aparente frieza e desconfiança, levantando uma barreira quase intransponível ao seu redor.

Escorpião, como todo o signo de Água, é muito sentimental e suas correntes emocionais são intensas e profundas. No entanto, ele se mostra sempre desconfiado, especialmente, no que diz respeito aos seus próprios sentimentos e detesta responder a qualquer tipo de pergunta íntima e direta. Por ter um conhecimento profundo dos mistérios e segredos que envolvem a natureza humana, ele está sempre esperando que o lado mais sombrio do outro apareça e por isto ele vive 'de tocaia', na espreita.”

aproveitei a fase “fértil” escorpiana para meter o dedo na ferida
(na minha, no caso).
busquei no fundo do meu peito aqueles velhos sentimentos que sempre me foram novos. resgatei todas as coisas que me faziam feliz e que hoje eu me sinto “in vergonhado”.
cansei dessa porra toda. meu primeiro passo foi mudar. ficar mudo. a começar pelos livros.

acabo de ler o livro “chagas da condenação”, do meu amEGO e excretor ex-treante victor miranda.
em seu primeiríssimo livro
(um romance, para ser mais específico, escrito pelo próprio aos dezenove anos de idade),
victor constrói um rio de janeiro sitiado por vampiros, lobisomens e zumbis.

não vá pensando que você irá encontrar vampiros bonzinhos que se apaixonam por humanos; nem que vá encontrar lobisomens que abanam os rabinhos quando estão felizes. os vampiros do apocalipse
(se um dia acontecer)
serão aqueles seres que os “rpgistas” imaginavam que fossem. os lobisomens do livro mais parecem aqueles garous
(“Meio humanos, meio animais. Predadores que espreitam todas as matas e os becos escuros da cidade. Monstros que se aproximam lentamente de sua caça, como espíritos da Lua, e então explodem sua fúria, causando um frenesi de garras e presas. Feras que uivam durante a Lua Cheia e que saem para a caçada.
Lobisomens.”)
que costumávamos jogar e que sabíamos de fato que todo hominídeo seria incapaz de detê-los.
os zumbis também não ficam para trás. humanos sedentos por carne humana, fico me perguntando se eles não são os verdadeiros “antropofágicos”.
e no fim do mundo, a única criatura que ainda tenta sobreviver, além das baratas, são os seres humanos.
(baratas mais evoluídas, eu diria...).

bento batista,
(com direito a nome “bíblico”).
o personagem principal do livro,
(meu preferido, é claro).
parece ser o único humano capaz de sobreviver no dia do juízo final.
por quê?
porque bento parece não ter juízo, afinal.
seu instinto selvagem é mais elevado do que das outras criaturas:

“(...) sabe esses homens que vieram logo atrás? Um deles havia sido mordido e quando ele se pronunciou, o clima ficou pesado.
- É melhor você sair de perto então, não? – perguntou Isis, diretamente para ele.
Mas esse cara era do mesmo grupo do gordo que havia apontado a faca quando entramos no bar, que alias estava ali pingando de suor quase como um pano de chão. Eu não resisti e descontei no mordido.
- Veja pelo lado bom, você já vai morrer mesmo – provoquei – deve ter algum corpo de mulher lá dentro que foi devorado. Devem estar faltando alguns pedaços, mas acho que você ainda consegue tirar o atraso antes de partir – gargalhei.
- Seu babaca... Eu não faço questão de que você vá primeiro – ele sacou um revolver.
- Acho que não – o encarei ainda sentado, apoiando-me em meus braços que estavam um pouco atrás do meu corpo. “Então vamos ver se” foi a ultima coisa que ele conseguiu dizer antes de soltar a arma e cair de joelhos. Isis cochichava com a “amiga”, tentando decifrar o que aquilo poderia significar, mas quase todos já imaginavam. Ze e eu tínhamos certeza. (...) ”

com uma linguagem cinematográfica “tarantiana”, victor arruma uma maneira simples para passar a informação. contemporaneamente falando, ele se aproveita de aspectos dignos de quentin, tais como brincar de deus e assassinar alguns personagens sem demonstrar apego sentimental.

lendo sobre o personagem bento,
lembro-me de quando fiquei apaixonado pela filosofia de consolo
(literalmente)
do velho schopenhauer.

(arthur schopenhauer foi um filosofo alemão do século XIX, nascido no ano de 1788, para ser mais exato).

o velho schop foi o “pai da psicanálise”
(em minha humilde opinião).
dono de um imenso desprezo pelas pessoas, schopenhauer acreditava que os humanos são mais alguns animais neste planeta, lutando para perpetuar a espécie.

mas se os seres humanos são os piores animais deste planeta,
logo,
os seres humanos não deveriam lutar para tentar perpetuar a espécie.

em seu livro mais conhecido: “o mundo como vontade e representação”, o velho schop deixa explícito que o único defeito do ser humano, tal como acreditavam os budistas
(schop flertava com as religiões orientais.),
encontrava-se na palavra VONTA(R)DE:

“Aqui, portanto, o corpo nos é objeto imediato, isto é, aquela representação que constitui para o sujeito o ponto de partida do conhecimento, na medida em que ela mesma, com suas mudanças conhecidas imediatamente, precede o uso da lei da causalidade e, assim, fornece a esta os primeiros dados."
- trecho de "o mundo como vontade e representação".

eu, fiel leitor de schop, também acredito que todo ser humano são motivados pelos seus instintos biológicos que transcendem a razão.
fazia das palavras do velho as minhas próprias palavras. fazia isso até conhecer o vovô freud.

o que o velho schop não sabia, mas que o vovô freud de fato saberia mais tarde
(freud nunca disse explicitamente que era leitor de schopenhauer, apesar de suas teorias “semelhantes” - uma característica sua de não querer assumir algumas coisas, diga-se de passagem),
pode ser obervado em sua teoria do RECALQUE:

“A teoria da repressão é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise. É a parte mais essencial dela e todavia nada mais é senão a formulação teórica de um fenômeno que pode ser observado quantas vezes se desejar se se empreende a análise de um neurótico sem recorrer à hipnose. " (Freud, 1914, p. 26)”

“Ora, o recalque pode ser entendido como um dos possíveis destinos dos impulsos libidinais provenientes do ego, se estes entrarem "em conflito com as idéias culturais e éticas do indivíduo", ou restrições sociais impostas a esse indivíduo, as quais são reconhecidas "como um padrão para si próprio". (Freud, 1914, p. 110) Podemos afirmar, então, que, em 1914, o recalque "provém do amor-próprio do ego", amor-próprio que, afinal, é a forma de resguardar a libido de investimentos objetais que não permitam algum tipo de satisfação narcísica (Freud, 1914, p. 110). A partir disso, podemos afirmar que a formação de um ideal é, do ponto de vista do ego, fator condicionante do recalque: "O ideal do ego impõe severas condições à satisfação da libido por meio de objetos, pois ele faz com que alguns deles sejam rejeitados por seu censor, como sendo incompatíveis. (...) Tornar a ser seu próprio ideal, como na infância, no que diz respeito 'as tendências sexuais não menos do que as outras - isso é o que as pessoas se esforçam por atingir como sendo sua felicidade." (Freud, 1914, p. 118)”

o caráter de bento
(como diria reich)
nos ajuda a enxergar os mecanismos de defesa encontrados pelo próprio protagonista a fim de se proteger das decepções que teve como resultado do convívio com outros seres humanos.

e como victor não poupa ninguém
(nem mesmo o seu personagem principal),
de uma maneira cômica e sarcástica, ele revela as contradições que escapam nas palavras e ações de sua personagem
(personagem= persona= (Origem do Latim) - Pessoa, traços e identidade particular. no teatro grego persona era a máscara que os atores usavam).
bento é um “prato cheio” para os analistas freudianos:

“ E assim que a dupla entrou, o garoto perguntou para mim após Zé fechar a porta.
- O que houve com você?! – ele parecia surpreso a me ver sem camisa e sujo de sangue. E ela talvez pela exposição das minhas costas definidas e ombros largos com aquele ferimento radical e sexy” 

há momentos (como esses) em que o protagonista parece sentir-se excitado com o próprio corpo, deixando escapar algumas frases onde aparenta ser “homossexual” tanto quanto o personagem “Leafar”.
(personagem esse que bento vive encarnando.
e que para mim é o personagem mais “macho” do livro; já que ele aguenta “coisas” que homem nenhum é capaz de aguentar, como diriam as piadas machistas).

ao longo do livro eu fui surpreendido
(mais pelo victor do que pela história)
com as possíveis “recaídas” do personagem em relação aos seus sentimentos:

“ Dentro da Kombi, estávamos em silêncio. Não por m clima ruim, mas pela falta de assunto mesmo. Eu tinha algo a dizer, mas não sabia como. E toda vez que eu tentava, me calava antes de pronunciar algum som. O maldito havia percebido como percebeu tudo que era oculto em mim antes.
- Algum problema, bento?
- Hm – tossi disfarçando – fora esse dela ter fugido com o meu amor – destaquei as últimas palavras – de novo?
- Sim, eu estava pensando nisso ainda, mesmo com tudo isso acontecendo. Meu amor por aquele carro sempre foi verdadeiro e parecia que o destino sempre queria nos separar.
- Sim.
- bem, você sabe...Eu não tenho muitos problemas – dei de ombros.
- Sei.
- Mas... Eu só queria te agradecer, por você ter me ajudado a resolver um desses poucos...
- O quê? – perguntou ele, querendo saber mais.
- Bom...Eu disse tanto isso a você, quando na verdade, eu deveria prestar atenção. Eu estou abrindo meus olhos e você...
Bem...Está me ajudando bastante...Obrigado – eu disse isso com a voz firme, enquanto olhava para estrada, como se tivesse agradecendo por um copo d’água na casa de um desconhecido.
Ele sorriu. E me deu uma resposta profunda (...)”

em momentos reflexivos como esses, podemos entender que o trabalho do excretor é justamente se entender com ambas as partes do nosso corpo funcional: RAZÃO & SENTIMENTO.
(e victor sabe muito bem disso!).

e foi desse jeito que eu fui le(a)vado pelas minhas lembranças.
recordando maneiras criadas por mim em tentar sobreviver a esse mundo que está condenado a ser livre
(como diria sartre).
lembro-me dos meus primeiros aprendizados com os jogos vídeo-games e rpg’s. aprendizados esses que professor nenhum foi capaz de nos (eu, victor & bento) ensinar.
(aproveito aqui para enxugar o veneno que escorre da minha boca.
da BOCA e não do RABO, que fique bem claro...).

hoje, assim como o filósofo alemão friedrich wilhelm nietzsche, percebo que maior do que a pulsão de morte é a pulsão de vida.
ao contrário do pessimismo schopenhaueriano e freudiano
(ao contrário deste último, especificamente,  nietzsche deixou explícito a sua (re)leitura schopenhaueriana, e sua principal desavença com relação a teoria do velho schop),
o filósofo bigodudo acreditou que “a vontade de viver” é o nosso principal objetivo de vida.

dessa maneira,
victor e bento me fazem refletir sobre a ideia do mundo, na qual todos nós somos condenados a sobreviver.

mais fácil seria se tivéssemos que conviver com criaturas apocalípticas, eu confesso
(remorso não haveria quando resolvessemos matar algum deles pelo simples prazer em matar).
mas não posso deixar de pensar que a morte existe justamente porque existe a vida também. e ela, quando chegar o dia do juízo final, será a nossa única aliada.

acabo de lembrar da frase daquele que também foi meu professor durante um “looooongo” período de minha vida
(ou morte, como queiram...).
na época de transição da minha fase da adolescência para minha fase adulta- sir CHARLES CHAPLIN:

“A única coisa tão inevitável quanto a morte é a vida”.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

quando se junta a fome com a vontade de comer

A música sempre foi a minha maior paixão. Aquela maior, que nos atormenta desde o tempo da escola. E que você sempre leva pela vida inteira. A paixão que tinha tudo para dar certo, mas não deu. E não foi pelas forças da platonice, minha amiga eterna. Naquele fogo e fôlego, dos amantes que jamais irão se largar mas que nunca poderão assumir um romance, apagávamos. Nunca deu certo porque nunca nos demos valor. Para ela, eu era pouco. Para mim, ela não tinha muito. Mas o coração trepidava todas as vezes que nos esbarrávamos pelos arredores, cantos e em toda esquina. E até hoje bamboleia.

Fruto de um romance que nasceu de repente. Afinal, todos os romances nascem de repente. E eu, que devia ter na época uns onze anos de idade, era muito novinho. Ela era cascudaça, veterana de guerra. Logo, fizemos um pacto: você nunca me dará nada e eu nunca te darei também. Mas os amantes nunca deixaram de se ver e se amar. Para o orgulho do pai e o desespero da mãe. A música consumia muito o meu tempo para nada, segundo minha mãe. Já meu pai acreditava tanto naquilo, que até hoje me manda algumas mensagens com fotos de violão, baixo ou qualquer outro instrumento dizendo: "e ai filhão, será que ainda rola uma conciliação?" Mas o trabalho está tenso, a vida anda apertada e eu agora me relaciono com a literatura, vocês sabem. A música ficou afastada da minha vida por um bom tempo. Mas agora, agora eu resolvi voltar. Dá a volta por cima da burocracia dos que nunca souberam ter atitude. A burocracia é uma merda para quem não tem cacique. Acabei com essa palhaçada de romantismo do século XIX, das dores, delírios e depressões por aquela que prefere sofrer ainda mais que você.

Aproveitei que meu irmão mais velho agora tem um brinquedinho novo, Um homestudio muito chique dentro de casa. E meu clone, ah ele tá sempre do lado. Se não está ajudando, tá fazendo. E ainda mais agora, que um grande amigo meu das épocas antigas da cachaça (todo suburbano tem essa época. eternamente.), Cayo, que eu conheci como "Ice" e fazendo rap, lançou essa belezura de EP que escorreu pelas caixas de som do meu alto falante. "É chill meu irmão, chill!" foi o que ele disse na última vez que nos encontramos num show. Aliás, nos encontramos no melhor show da minha vida: Toro y moi, no circo voador, ao vivo(Foi lindo!). Então o menino sabe o que está ouvindo. Com o ouvido fino, o EP chamado "Alimentar" ficou pura onda sonora batendo no vagar das lâmpadas de casa. E isso foi a gota d'água! Preciso desenterrar o baixo de cima do meu armário. Eu preciso resolver logo este assunto com a música antes que seja tarde demais. Antes que a última nota pare de tocar. Eu preciso comer!



Escute o som aqui

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

arodarodarodarodarodarodarodarodarodarodaro...


de todos as figuras geométricas, a roda é a que mais me agrada.
enquanto o triangulo e o quadrado

(para não precisar pegar as outras figuras mais complexas)

possuem "cantos", fazendo assim com que os elementos inseridos dentro dele permaneçam separados, a roda não possui canto. seu encanto é justamente a sua forma única, onde todos permanecemjuntos dentro do mundo. no umbEGO do ovo.



os círculos foram umas das figuras que mais marcaram a vida dos nossos parentes primi-ativos.
o macaco descobriu que poderia fazer a vida rolar.
ou rolar com a vida.
e da vida veio a roda
roda-viva
vida-viva
viva a roda!
então criou-se a roda.

entendo galileu quando quis provar aos machistas de sua época que o mundo é redondo.

(eu, man-ino que soul,
sempre acreditei que o mundo é de fato redondo).

todas as brincadeiras em roda que eu praticava me traziam  uma segurança por estar dentro daquele mundo em círculo.

(principalmente em meu primeiro baseado em fatos reais).

afinal,
aquela imagem do primeiro circulo em que vivemos durante nove meses ainda permanece cravada em nossas memórias. seja inconsciente ou não.

a cia do "body", que está em cartaz com o espetáculo chamado " a roda", me proporcionou no dia de ontem, momentos reflexivos sobre universo redondo, essa roda-gigante que se chama mundo.
com direção do ator autor & artaud - sidney guedes- e com os atores umile ro-man-o e adriana dehoul, a peça fala do carinho que todos nós temos pela roda. pela vida. pela roda-viva.
nessa comédia "sinsense"

(acho que a palavra "nonsense" não combina com a proposta dessa comédia que nos ajuda a enxergar o óbvio que até então parecia ilógico).

os discursos "redondos", onde os atores falam, desfalam e voltam a falar dos mesmos assuntos, enaltecem a ideia nietzschiana do eterno retorno.
no ambiente "oriental" da simbologia do círculo

(do yin e o yang),

o casal vestidos:
ele com a cor vermelha (cor do sangue, "que sangra"...),
ela com a cor azul (intelectualidade, das repostas);

(a cor é um assunto que eu pretendo retomar em um outro dia, quem sabe...)

refletem sobre a vida, ou seja, a roda.
misturando-se entre eles (yin e yang) a tal ponto de não sabermos identificar o gênero de cada personagem

(heranças de leopold bloom,
o homem-feminino de james joyce).

e misturando-se eles com a platéia de forma sú~.

(aproveito o momento para parabenizar os atores umile romano & adriana dehoul que juntos fazem a peça
ficar com o gostinho suave. facilitando assim a degustação da peça, sem que o público precise forçar a mordida para quebrar as partes mais duras da encenação).

no final do espercírculo,
ficamos com a sensação de que permanecemos todos dentro de uma mesma barriga.

aproveitem que a peça "a roda" está em cartaz no teatro Max Nunes - América Futball Club - todas as quarta-feiras às 20hs, para conferi-la.

indico à todos que após a refeição da peça, sentem numa mesa de bar

(o templo de atenas moderno)

para refletir, saboreando uma boa sardinha, acompanhada de uma boa cerveja, que é  "a alma da sardinha".

de fato veremos que todos nós estamos nessa ciranda de maluco.
seja você homem grávido ou mulher que sangra.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

0

"A testosterona faz o homem ter mais músculos, menos gordura, menos celulite e também ter maior facilidade em gastar energia e perder peso. No caso da mulher, o estrógeno a faz delicada, cheia de curvas e com a gordura distribuída nas nádegas, mamas e coxas."





                                                                                  sou do time daqueles que acreditam que a terra é reta
ainda sim
acredito que o verdadeiro mundo
é redondo
                                                                                                                              (do pescoço para
                                                                                                                                                b
                                                                                                                                            a
                                                                                                                                                 i
                                                                                                                                               x
                                                                                                                                                       o).

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

poesia a(ra)uto-sustentável


após um longo período me alimentando de livros com temas pesados para digestão
(astrologia, teatro, pedagogia, psicologia, teoria da personalidade...)
resolvo trocar o prato por um livro de poemas, sobremesa essa que nos faz comer um poeminha de cada vez para ter aquele gostinho de doce no céu da boca.

“poesia auto-sustentável” de alice souto é o meu prato principal.

sempre que resolvo me olhar no espelho sou pEgo pela seguinte frase estampada em minha face, sem l(b)ook:

“você é aquilo que escreve”.

(sou imperativo. não aceito perguntas).

estudando sobre a teoria da personalidade, acabo esbarrando em assuntos que dizem respeito não só a mim, mas a toda so(a)ciedade.

a astrologia,
ciência essa que nem todos consideram sendo LÓGICA,
me caiu como uma LOVE.
                            (UVA)
não há uma pessoa que tenha nascido no ocidente
(ou que não tenha visto os cavaleiros do zodíaco)
que não conheça a turma do zo(o) díaco.

sendo assim,
fica mais fácil visualizarmos que tipo de personagem nós somos obrigados a interpretar
(favor não confundir com REPRESENTAR)
como carma por termos nascido sob aquela constelação, com o sol exatamente naquela posição, naquela estação e naquele horário.

já con fé sei que tenho uma certa atração
(aliás, atrações precisam ser cer tas).
pelos poemas concebidos pelas mão(e)s daquelas que já nascem com estas “delicadas”. e é com essa mes mamão que alice demonstra
céu lado lib(r)idinoso em ser racional.                                                                                                                (AR)

Entre teus dedos

Entre teus dedos
Entendo Deus
Palavras vans
Nuvem de ais
Se penso paz
Meu corpo pede mais

Aguardo e ardo
Pelas manhãs
Anseios inundam
Segundas segundos
Os seis inflamam

Ama, derrama, chama
Só sossega quando abre
Mãos, braços
Abre as pernas ao cansaço

Não terá sido por isto
Todo o sangue de Cristo?
 Sacrifício, sacro ofício
A arte em muitos sentidos

Debaixo do meu umbigo
Artesão me dê a mão!
Ah tesão entre teus dedos
 Tateia sem manual
Meu corpo cego
Aceita não nega
Entrega sem medo

as palavras escorrem entre os dedos dessa menina com o su-ó! daqueles operários que trabalham com a palavra:

O Poeta-Operário
de Vladimir Maiakovski
(1893-1930)

Grita-se ao poeta:
“Queria te ver numa fábrica!
O que? versos? Pura bobagem!
Para trabalhar não tens coragem.”
Talvez
ninguém como nós
ponha tanto coração
no trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés
me faltam
talvez
sem chaminés
seja preciso
ainda mais coragem.
Sei.
Frases vazias não agradam.
Quando serrais madeira
é para fazer lenha.
E nós que somos
senão entalhadores a esculpir
a tora da cabeça humana?
Certamente que a pesca
é coisa respeitável.
Atira-se a rede e quem sabe?
Pega-se um esturjão!
Mas o trabalho do poeta
é muito mais difícil.
Pescamos gente viva e não peixes.
Penoso é trabalhar nos altos-fornos
onde se tempera o ferro em brasa.
Mas pode alguém
acusar-nos de ociosos?
Nós polimos as almas
com a lixa do verso.
Quem vale mais:
o poeta ou o técnico
que produz comodidades?
Ambos!
Os corações também são motores.
A alma é poderosa força motriz.
Somos iguais.
Camaradas dentro da massa operária.
Proletários do corpo e do espírito.
Somente unidos,
somente juntos remoçaremos o mundo,
fa-lo-emos marchar num ritmo célere.
Diante da vaga de palavras
levantemos um dique!
Mãos à obra!
O trabalho é vivo e, novo!
Com os aradores vazios, fora!
Moinho com eles!
Com a água de seus discursos
que façam mover-se a mó!
    
a diferença que há nos “poemas femininos”, entre a mão que escreve e a cabeça que pensa, é justamente o gênero. e o que há entre alice e as outras escritoras é o fato dela não ser introvertida
(há nos introvertidos uma “necessidade” maior de se satisfazer apenas com o mu(n)do de dentro).
isso faz com que alice aja com o espírito libriano, com aquilo que eles sabem fazer de melhor: COMUNICAR.

V. Mimosa

Eu como capim, sim
Pode botar
Vinte de mim pra cada touro
To nem aí!

Encurralada
Eu não reclamo
Que sujo o rabo
Na sua lama

Me sento
Sem pressa
Questionamento
Não me interessa
Filosofia?
É só história pra boi dormir
Tô nem aí!
   
Pode me comer, seu touro
E me arrancar o couro
Que depois de mim, como capim
Virá outra
Vaca louca

Me babo toda
Engulo e cuspo
Sem asco ou ânsia
Pela resposta

E ainda me diz sagrada?
Pois te revelo nas retinas
O segredo é que rumino
E mais nada.



A vida convida

Amigo, se toca
Tá na cara
Só tapado não entende
Que a vida bate
E não é tapa
Que isso não é só teatro
Isso é teatro
E é a vida em ato.
Escuta!

A vida vibra
Como vidro
Ávida a vida convida:
- A vida brinda
- A vida brinca
- Beba vida
-   Tim Tim
- É só dizer sim!

Ora se toca amigo
Que todo esse ato
É só pra te tocar!
Com vida
Duvida?
- Só acredito se eu puder tocar

Então se toca!

A corda toca tá na cara só tapado não
entende que a vida bate e não é tapa que isso
não é só teatro isso é teatro e isso sou eu
aqui no palco de graça no ato com tato
contato contato...

A vida vibra
Poesia
Convida!

após ter tido mais um insight-eructativo sobre pedagogia, lembrei que nela (pedagogia) a comunicação é essencial quando se quer conhecer o mundo dos outros.
e nesse universo de pedagogia e ensino, lembro das palavras do professor pignatari:

“Hoje, quando “comunicação” se vai transformando em prato trivial, é comum que intelectuais se pronunciem sobre comunicação de maneira indiscriminada, cândidamente ignorantes, ou esquecidos, de que os homens e os grupos humanos, como os animais, de resto, só absorvem a informação de que sentem necessidade e/ou que lhes seja inteligível... (...) É assim que vemos multiplicarem-se, pelo Brasil, cursos de comunicação, inclusive ao nível universitário, que não passam, na maioria, de psicologismos, métodos áudio-visuais e relações públicas (...)”

(trecho retirado do livro “ Informação.Linguagem. Comunicação.” de Décio Pignatari (editora perspectiva).
by the way,
ouvi dizer que o professor de cio pig n’ ATARI é do signo de leão (egocêntrico, dizem...) .)

seria óbvio se alice estudasse comunicação social, mas como a comunicação é um atributo libriano, ela utiliza-o em sua carreira como psicóloga.

para ser ainda mais preciso, alice é do time de wilhelm reich – cientista, perseguido pela FDA (a agência do governo americano que regula gêneros alimentícios e medicamentos), sendo acusado de fraude. foi condenado a dois anos de prisão e teve todas as suas obras proibidas. um ataque cardíaco o matou na prisão.

reich, que começou sua carreira como psicanalista, focou seus estudos  na sexualidade e descobriu que a vida é uma necessidade biológica em todos os seres orgânicos.
há nesses seres uma “energia vital”, energia essa  presente em todos os seres orgânicos, denominada por ele de ORGÔNIO (ORGONE).
o cientista também descobriu que o nosso corpo funciona de maneira “funcional”, sendo a mente e o corpo dois lados de uma mesma moeda.
(fico me perguntando se reich não foi oque chegou  mais próximo de descobrir a origem da poesia).

com isso nós podemos perceber que aqueles que são librianos e extrovertidos precisam “receber informações” do mundo. é uma questão de energia vital:

Intercâmbio caracol

Foi mal
Não fiz intercâmbio cultural
Então por favor me diz
Quem é o tal...do Baudelaire
Quem é Baudelaire?
Quem é?

Nunca vi entardecer na França
Não toquei piano em criança
Mas tomo muito sol.

Você conhece o caracol?

Avenida Brasil
Sete da matina passarela em
espiral
É fila atrás de fila na van pra
Copacabana
Senta no banquinho e corta
caminho pela maré
No intercambio Caracol não se
fala em Baudelaire


Intercâmbio Catumbi

Da janela do 485
A cidade em cena- viagem
Moleque poema
Pede passagem

Bichos, oficinas e meninas
Putas, ou moças com calor
De submissão nem sinal
Semblante de quem tem
O samba no quintal

Pode até rir
Meu intercâmbio cultural
Passa pelo catumbi

Porque sonhar só com o Leblon?
Vai querer meu sonho são?

Sono lento, engarrafado.
Cerveja, boteco
Cortiço, sobrado
É querer demais querer tão pouco?
Nada...Sonho bom é sonho louco!

e é desse jeito que eu vou descobrindo alice: através de suas palavras.
hoje eu posso dize-la com segurança que eu e o meu clone ainda estamos na fase de “intro- versinho & versão”,
(arianos são egoístas, dizem...)
devido ao ex-porro que tomamos dela no CEP 20.000, evento do então poetão chacal,
(ouvi dizer que chacal é do signo de touro, teimoso, dizem...)
por não decorarmos os nosso poemas.
(é que eu ainda prefiro escrever para ser ouvido. é uma maneira de me (re) conhecer sempre que pegar em meus textos não de cor ados).

enquanto algumas pessoas tentam de tudo para manter a sua imagem, desperdiçando milhões de segundos tentando man-ter aquela imagem que sustente suas palavras, sua faculdade, seu intercâmbio cultural; alice vai levando sua poesia de forma espontânea e por isso se torna a(ra)uto-sustentável.
ela não precisa manter uma imagem, sua imagem libriana lhe sustenta. está explícito:

Poema de língua

Com a letra na ponta da língua.
Não cabem mais palavras na boca de quem beija.
Mas há um bocado de sentido!
Por isso digo: o beijo é linguagem.
Línguas ágeis interagem.
E o transporte é a saliva, que lava a palavra e me leva à ação.
O que em mim ativa: desejo de comunicação.