quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Bala!

Feriado, pra que te quero? Se no Brasil as coisas vivem num eterno recesso? Todo dia é dia de cana, enchentes, vias entupidas, novelas e canaviais. Se você quiser mudar de vida: ih, hoje não vai dar. É dia de futebol na TV. Do último capítulo da novela das oito. De descobrir quem matou Odete Roitman. Conheço estas histórias de outros carnavais. No Brasil se paga o prato e se come o pato. Mas ainda sim, existem outros animais que pensam: no futuro, na futilidade da vida, na ironia e na decadência dos outros animais. Ornitorrincos e pardais. Estes sim, são bichos porretas.
Nesta semana, no meu trajeto ao trabalho, dentro de um ônibus cheio de pessoas vazias, perdi o sono com o livro de estréia do Gabriel, O Pardal. Que fera! Que Garra! Animal! Carnavália é o livro que se desnuda sem precisar estar num carnaval. E prega uma peça bonita nessa gentalha.
Este cara, que tem pinta de sulista, ginga de carioca e vem lá da Bahia. Ele não está falando sério. E quem no Brasil fala sério? Ninguém se leva a sério. Estamos dispostos a arrancar gargalhadas da desgraça alheia. Ou da própria. Das prestações vencidas, das almas perdidas, dos cartões estourados. Vende-se desespero como mercadoria. Quem dá mais!? "a ideia inicial era que na/ falta de balas, cassetetes e granadas, você pudesse/ arremessar este livro contra os inimigos." Pardal dá o troco nesta palhaçada toda sem receber um tostão. E neste circo armado de fanfarrões e carrascos mascarados de apresentadores de comerciais, Gabriel, o professor-pardal, só quer mostrar pros senhores e para as senhoras a mais nova invenção que o mundo já conheceu, da mais alta inovação ideológica que um homem já conseguiu: Carnavália. E aproveite para saborear esta incrível cria, enquanto o seu dinheiro te leva para passear, antes que o mundo se acabe em doces e travessuras. Isto aqui rapá, é bala.