quarta-feira, 10 de julho de 2013

10/07/13 - Quarta-feira


Zé, que já conseguia abrir os olhos, enxergava o mundo ao seu redor.

- Será que ainda estou sonhando?

Ele reconhece o lugar onde está. Sol. É dia. Apenas o cheiro do cigarro do Chimpanzé-velho. Fumaça. Zé escuta a voz do Chimpanzé-velho falando em seu ouvido:

- O sonho é apenas a outra face da realidade.

Zé precisava ter a certeza de que estava na realidade que conhecia. Caminhou no meio do mato e chegou até o grupo de bonobos que logo reconheceu. Todos eles, como de costume, alguns de barriga para cima, outros de barriga para baixo,  praticavam o sexo.  Zé olhava-os se divertindo e não conseguia mais achar prazer naquilo tudo.

- Por que eles se divertem ao invés de conhecerem o mundo?
- Porque o conhecimento vem do prazer – respondia o velho primata em seu ouvido.
- O prazer é uma manifestação divina?
- E o que não é manifestação divina? Nascemos dele, carregamos ele dentro da gente.
- Eu não quero carregar ninguém dentro de mim. Me assusta saber que tem alguém me olhando a todo momento.
Zé olha para todos os lados e sente que está sendo observado.
- Quem observa também é observado.
- O que você está querendo de mim, afinal?
- A verdade.
- Eu já não te disse?
- Não é a mim que você deve dizer.

Zé sai daquele lugar procurando pelo Chimpanzé-velho. Ele percebe que a fumaça vai aumentando no meio do mato.

- Tem algo pegando fogo na mata.
- Nem sempre onde tem fumaça, tem fogo.

Zé consegue ver o velho primata deitado com o seu cigarro na boca. Seus olhos continuam azulados mas agora não brilham, por causa da claridade.

- Você esteve aqui o tempo todo?
- Nós estivemos aqui o tempo todo.
- Que tolice...
- O tempo é tolo.
(silêncio).
- Você achou o seu próprio tempo? – perguntou o velho chimpanzé saltando do chão com uma habilidade que não condizia com a sua realidade. – Você precisa achar o seu tempo, que é diferente do tempo do mundo.  - O Chimpanzé-velho lhe aplica uma “benção” no meio de sua barriga. Zé contorce-se de dor. Sua barriga já estava doendo de antes.
O velho primata se aproxima do rosto de Zé:
- Você precisa se encaixar no tempo do mundo, dos Outros. Ache o meu tempo e você achará o seu tempo.
O chimpanzé-velho dá um mortal para trás e espera Zé se levantar. Zé levanta-se e percebe que precisará brigar pelo seu tempo.
Eles jogam capoeira dentro da mata.

(Para ler ouvindo “A Capoeira” do grupo Ayahuasca).

- Você precisa entender que a vida é feita de “jogos”. Você, para dialogar com o mundo, precisa achar o “tempo” das coisas. Quebre o meu tempo e você achará um tempo que não existe na realidade.

Zé percebe que pode conseguir atingi-lo quando age no contra-tempo da ginga do Chimpanzé-velho. O velho primata, muito experiente e sabido, esquiva-se dos golpes de Zé enquanto gargalha:

- O tempo só existe na nossa cabeça! O tempo do corpo é diferente do tempo da mente!

Zé lhe aplica uma armada, mas não estica o pé no alto, como deveria, mas sim lhe dando uma rasteira fazendo o velho chimpanzé cair no chão. O velho primata permanece no chão rindo.

- Você agora se chama “Vagalume”. Será aquele que na escuridão traz a luz. Carrega dentro de si a luz da lua. Você vai voar e iluminar a escuridão, Vagalume.

O Chimpanzé-velho coloca um cordão com um pingente de Lua no pescoço de Zé.

- Não se esqueça, a luz vive fora e dentro. Você precisa saber usa-la de forma consciente. Não deixe que as tentações lhe atrapalhem. A verdade está em Deus, no “Eus”. E quando achares que está sonhando, lembre-se que a vida é um grande sonho. Agarra-se a uma realidade qualquer e ela passará a ser a única realidade.

O Chimpanzé-velho some dentro da mata rindo e dando piruetas no ar.

Zé abre os olhos e percebe que está vomitado no chão. Sua barriga quase não dói. Em seu pescoço há o cordão que recebeu do Chimpanzé-velho. É dia.


A realidade é essa.