Estamos correndo o tempo todo nesta vida.Às vezes até corremos da própria vida.Mas existe momentos em que paramos de correr,só por alguns minutos,talvez na hora de atravessarmos a rua ou quando estamos esperando pelo metrô.
Só no metrô que as pessoas percebem o quanto são devagar.O metrô corre o tempo inteiro e nós é que não percebemos isso.As viagens costumam ser tão rápidas que o melhor que se tem pra fazer é comer um sanduíche,ler algum livro ou apaixonar-se por alguém.Eu sempre escolho a última opção.
Com um vestido verde combinando com a cor de seus olhos,ela chamou-me a atenção assim que entrou no vagão.Em meio há tantas pessoas com os rostos cansados não era impossível de se apaixonar por aquela beleza de Homo sapiens.
Eu,que antes havia escolhido a opção de ler um livro,tive que abdicar do existencialismo de Sartre e dar mais importância a existência dela.
Foi então que eu misturei ficção,cores,desejos,cansaço,aromas e imaginação(principalmente esta última) afim de juntar um pouco de minha existência com a existência dela como em um filme.Ah se Godard estivesse ali do meu lado....ele acabava de perder um belo roteiro!
Imaginei aquele lindo ser Humano se sentando ao meu lado,encostaria sua cabeça em meu ombro achando ser um travesseiro,enrolaria meus braços em seu corpo achando serem um lençol e nos olharíamos um para o outro através do vidro escuro à nossa frente.Não precisaríamos falar nada,nós nos entenderíamos só com os olhares.
Depois sairíamos do vagão para beber e comer alguma coisa,talvez na confeitaria Colombus ou na livraria da Travessa,no centro da cidade.Eu descobriria que o meu existencialismo só dependia da existência dela.
Viajei mais rápido do que o metrô em nosso túnel do tempo e vi os nossos filhos,todos com os olhinhos verdes combinando com os acentos do metrô agora divididos com agente.
Vi a nossa primeira briga por causa de ciúmes dela ao me ver olhando para outras mulheres no metrô.Vi o seu rosto vermelho e molhado ,o medo de que algo pudesse destruir o nosso amor existencialista.E eu chegaria ao seu cangote e a beijaria,sem dizer uma única palavra pois nossos corpos já se entendiam perfeitamente na cama.
E então eu decidi registrar aquele momento da existência com um poema na contra-capa de Sartre:
“ Muitas coisas da para se fazer neste mundo
Inclusive viver uma história de amor em apenas um minuto
Pena que a nossa história não deu pé
Só durou da estação de Botafogo
Até a estação de São Francisco Xavier...”
Brenowski
Ópera de pássaros
Há 2 semanas