Ela tentava, com todo fôlego que ainda lhe restava, manter o relacionamento deles de pé, ereto, reerguer outra vez a masculinidade de seu parceiro. Fazia um pouco mais de um mês que ele estava cada vez mais calado, introvertido. E ela, se sentindo cada vez mais insegura, pensando no pior, que ele poderia estar se divertindo em outra casa e com outra mulher. Em vão, era só questão de segundos para que todo o pesadelo voltasse e a masculinidade dele desabasse na cama. Ela tinha medo de chorar. Engolia o choro, engolia o gozo. Nada o suficiente que a fizesse esquecer todos os seus pensamentos femininos.
Ela tentava chegar mais perto, tentava ser extrovertida, divertida. Não tocando no assunto, mas tocando nele. E ele, como se estivesse perdido em algum lugar, vagando. Como se tivesse perdido algo em algum lugar. Ela, na boa fé que tinha, comprou fantasias, roupas novas. Aprendeu novos truques: Trazia-lhe comida na cama, dava-lhe de mamar e mamando-o. Pegava-o no colo, oferecendo o seu maior presente, o seu bolo. O buraco desejado por muitos homens. Aquele buraco universal que no verso termina com “al”, mas que em nada animava o homem que um dia chamou de “seu”.
Tentou ser a mulher perfeita: evitou demonstrar suas condições humanas, pintou os cabelos, turbinou os seios, dormiu com roupas caras e não tirava a maquiagem para não acordar feia. Transformou-se em um daqueles tipos de robôs que parecem ter saído das capas de revistas, do mundo “photoshopico” para a cama do casal. Todos os homens da rua & do bairro lhe desejavam. Menos um. Aquele com quem desejava passar o resto de sua vida dividindo o mesmo prazer feminino. Até que um dia, após ela ter-lhe chamado para jantar fora e de mostrar o sorriso branco que acabara de clarear, ele continuou em preto & branco, escurecendo todo o jantar com um silêncio de cinema mudo.
Ao descer do carro, ela sentiu uma necessidade monstruosamente biológica de ir ao banheiro. Contorceu-se na porta de casa de uma maneira que nem na cama conseguia fazer. As chaves de casa, desaparecidas nos bolsos, na bolsa, só fez aumentar o desespero em seu corpo. O líquido amarelo já começava a bater na porta da frente quando, ao abrir a porta, correu na mesma rapidez que em um dia de liquidação. Não queria protagonizar ali, diante de seu homem, a cena que poderia lhe fazer perder todas as esperanças de ser a mulher perfeita. Mas, não agüentando a pressão, fez ali mesmo, dentro da sala, sua necessidade genuinamente humana.
Sentindo toda vergonha do mundo, sentiu-se como se tivesse voltado no tempo, quando ainda era uma menininha indefesa diante de um público ameaçador. Ali, com as calças no joelho e o líquido amarelo marcado nos fundilhos de sua pequena calcinha, ela viu o seu homem contorcendo-se de prazer, por ter tido de volta o seu espírito de macho.
13/03/12.