segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O que houve, Chaves?


O pobre garoto pobre andava com sua trouxa por cima do ombro sem saber por que andava com a sua trouxa por cima do ombro, sem um caminho certo. Não se lembrava qual era o caminho certo & não se lembrava mais das músicas infantis que alegravam as crianças com estórinhas sartrianas. Caminhando contra o vento sem se lembrar do sorriso do gato ou de Alice. Os únicos sorrisos que conhecia eram os sorrisos das pessoas que nunca lhe sorriam. Sorrisos de propagandas de Tv que são assistidos por outras pessoas que não estão inseridas na cena. Ninguém distribui sorriso pra ninguém. A essa altura o pobre menino pobre não se lembrava de ninguém. Nem de sua mãe. A fome o fazia lembrar que precisava comer & fome é o melhor remédio para esquecer as coisas. Quem ama perdoa, mas quem tem fome esquece, então, Chaves, ou Chavinho (maneira carinhosa de se menosprezar um indivíduo que necessita de palavras em aumentativo, como por exemplo, “PÃO”) Esquece que tem fome. A fome não perdoa & quem ama se esquece daqueles que passam fome.

Mas Chaves, ou Chavinho, era só um pobre menino pobre & meninos aprendem rápido as coisas esquecidas pelos os adultos & que a vida é feita de esquecimentos. Um dia a gente esquece & no outro nós somos esquecidos, como eu, que havia me esquecido de como é trágico o olhar triste da comédia. Já não consigo enxergar poesia naquelas risadas eternizadas pelo o esquecimento da fome, que ama aqueles que perdoam os seus amiguinhos, mesmo que esses te neguem um pedaço de pão.

O que poderia ser aquele gesto infantil, genuinamente humano, demasiadamente humano, se não um gesto humano, genuinamente infantil, demasiadamente in-humano de desprezar o próximo? Nenhum miserável merece um sorriso de gato. Nenhum miserável consegue ser gato. Eles nunca sorriem (apenas das desgraças dos outros).

Sim, o cômico é mais agressivo que o trágico & rir daquele garotinho mimado que tenta compensar a ausência de um pai com atitudes egoístas & brinquedos caros é um gesto infantil humano. Sua mãe lhe criou sozinha & apesar dos esforços como dona de casa & de não ter mais tempo para cuidar de sua própria beleza (ainda dizem que só as mães são felizes), ela insiste em arrumar um homem que queira assumir a responsabilidade paterna. Beleza e tristeza são palavras que só se diferenciam em algumas letras. A beleza disfarça a tristeza que disfarça a fome, mas não o esquecimento. Rir daquele garotinho mimado que precisa humilhar Chavinho por não conseguir um pão, ele, sem pai, faz gestos humanos, demasiadamente infantis.

Mães esquecem os filhos quando precisam preencher a sua cama vazia com homens, mesmo que esses não queiram a responsabilidade de assumir os filhos que não são seus & os filhos, jogados ficam, com os brinquedos espalhados pela a sala, sem um pai.

O pai daquela menininha dos óculos grandes, que prefere se esconder atrás dos gestos masculinos (o único ponto de referência que enxerga em casa, mesmo com os vidros fundos de garrafa que não lhe ajudam a enxergar uma mãe), é um homem que foge de todas as responsabilidades justamente por ser um pai, demasiadamente humano.

Seu pai madruga pensando no amanhã ,como se fosse outra palavra longe de ser o agora, mas todo amanhã é agora & aquele amanhã que sonha, não chega nunca. Ele vai sobrevivendo como pode, se fodendo, tendo que se rebaixar para não ser como Chavinho, um miserável que tem o sorriso da fome. O pai daquela menininha, que não conhece a felicidade das mães, não é mais criança & por isso desaprendeu a esquecer, ou, esqueceu como se faz para esquecer.

Ainda sobrevivendo aos dias de agora que são todos diferentes um do outro & diferentes do dia de amanhã, ele precisa agüentar as porradas da vida & da mãe do menino mimado que se faz de vítima por não ter um pai.

Aquele pai, da menininha que tenta encontrar sua feminilidade paquerando Chaves ou Chavinho, o único miserável que parece entender bem o que é a fome no fundo do barril , ao contrario dos fundos de garrafa que prendem a sua visão que sonha em ser mulher & não homem & que sonha um dia encontrar um homem que a ame & logo perdoe todos as suas atitudes agressivas ,o miserável que madruga, foge do homem gordo que sofre com o seu excesso de peso & por isso disfarça a fome com a necessidade de ser rico, cobrando aluguéis dos miseráveis. Ele também usa óculos & enxerga a tristeza humana, disfarçada de beleza & por isso parece ser o único que ama & perdoa. Ainda assim, sofre com o seu peso & sofre como o seu filho, vítima de bulling na escola. Ele precisa comprar o que comer para o seu filho que parece não ter fome, mesmo assim come para esquecer que ele também é um miserável como à senhora que mora na casa 71; sozinha, compartilha consigo mesma a solidão da velhice. Velhos não conseguem esquecer & ela sonha em arrumar um homem que divida com ela a cama & a solidão da noite.

Chaves, ou Chavinho, & seus amiguinhos confundem solidão com bruxaria. Ela não esquece que eles são apenas crianças & crianças apenas sentem fome & ela que não tem ninguém para amar, perdoa.

Aquele pobre menino pobre aprendeu rápido que nós, demasiadamente infantis, somos todos irmãos na miséria & por isso perdoamos , amamos e sentimos fome. Esquece que não tem um pedaço de pão na barriga, essa que já não dorme e nem ronca; sua barriga morreu, virou presunto que não alimenta a fome.

& eu, que não sou mais nenhuma criança, sentado em frente à Tv, esqueci de como é engraçado rir das desgraças dos outros. Esqueci de como a tragédia humana é bela.