amo as cores.
(por uma letra a
mais, e o meu discurso ganha uma outra cor).
desde muito novo eu tive uma certa atração por cores
apesar deu nunca conseguir me relacionar tão bem com nenhuma delas. todos os
meus desenhos eram em preto e branco.
meu primeiro flerte começou através dos jogos de vídeo-games.
(meu primeiro
contato com o mundo lisérgico, eu diria).
em minha adolescência, as cores chegaram até mim através
das películas de
pedro almodóvar (nos filmes de almodóvar, nada é de graça).
wes anderson também tem me chamado a atenção ao colocar as
cores em seus devidos lugares. vide de exemplo o seu último filme
moonrise kingdom.
eu sou do time de almodovar
(cuidado com as
palavras...).
apesar das cores pasteis do filme de wes ter me encantado por sua estética “istangram”.
chegando na fase adulta, fui apresentado ao universo
psicodélico. e isso me fez perceber ainda mais que o mundo nasce das cores. basta
que você feche os seus olhos e verás que antes de surgir qualquer pensamento,
nascerá cores dançando em suas retinas.
(é preciso saber
colorir as ideias).
como não lembrar do programa que me fez entender um pouco
mais como é que funcionam as cores:os
super sentai .
(power ranges, se você preferir a versão
norte-americana).
através deles eu pude perceber que as cores estão
intimamente relacionadas às nossas personalidades. vejamos:
o ranger vermelho
normalmente é o líder;
o ranger azul
costuma ser o braço direito do líder;
o ranger amarelo
variava entre os personagens femininos e masculinos e quase sempre era
excêntrico;
o ranger rosa dava
o tom feminino à equipe;
e algumas vezes
víamos rangers brancos que eram superiores aos demais; os rangers verdes
junto com os rangers azuis formavam a
parte “racional” da equipe; e outras cores inusitadas que apareciam ao longo da
série.
coincidência
(ou não),
acabo de ler dois livros coloridos demais para eu deixar
passar assim pelos meus olhos despercebidos: “versos vermelhos” de bruno borja
& “mãos
azuis” de anna beatriz mattos.
por uma questão de ordem alfabética, e de cavalheirismo
(com “H” de
“homein?”),
irei começar a “viajar”
(como diria dona
alice souto)
pelas mãos azuis de bia
(“bia”para os
amEGOS).
o livro é azul
o livre também:
Sobre o azul
Mãos azuis são mãos que tocam
o céu. Ser azul é estar sentado sobre a pedra alta da cidade e observar que no
meio das ondas, das pedras, dos trovões da chuva que já vem, dos sorrisos. No
meio de tudo isso há uma calmaria lenta. Estar azul é conseguir sorrir enquanto
seu coração aperta. O azul é um deixar de ser distância. É chegar mais para
perto, mais para dentro.
A palavra impossível é amar. Eu escrevo para
que as flores não tenham medo e para que as pessoas sejam menos bonitas por
fora. Para que os rios façam mais barulho e que esse seja o eco do caos. E que,
em vez dessa sujeira e de alienígenas sentimentais, surjam raios laranja logo
ao amanhecer. E que cada passo à noite seja uma estrela. Para que tenhamos
tempo para os passos e para as estrelas. E que se houver morte, que haja
sensibilidade. Para que as pessoas tenham coragem de comer as nuvens. Para que
parem com esta entrega tão distante.
Eu vou seguir a política das minhas próprias
mãos. O azul é o que faz o coração bater. É o que vem depois do choro. O
achado. É o que está por trás. É o que já esteve em nós.
coloco o meu nariz preto em cima das letras.
- huuuuunf!
sinto o cheiro pelas letras. é cheiro de fêmea.
um ponto para bia,
um conto para mim:
IV
OBRAHUMANA
Tira o teu pedaço direito.
Tira os teus erros. Tira sua alma toda, a esquerda. Pense no que sobra, no que
és. No que não pode ser. No que sempre viu sendo. No que sempre foi deixando.
Para mias tarde, para nunca mais, para sempre adeus, para sempre um fim, para
sempre não e não e não martelando. Ai, a mão cheia de maldade, martelando.
Martelando. Desafia a ponta da lança: contraopeito. Tira tudo o que veio
contigo. Formando na placenta, na quarentena biológica de acostumação do ser.
Tira tudo e deixa só o que pensas agora, os dias depois do primeiro choro. Tua
morte prematura me aflige. Tira tudo isso de você, antes que o espelho seja
cruel demais., antes que eu ou os outros digam o reflexo. Entorna em quem tu
és. Destorna-te. Detone-se. Acabe-se em fios de cabelos esvoaçados, sem um
corpo, sem sustentabilidade na alma fria, insegura. Fios soltos, dispersos, em
queda. Foi em balsa, em mar. Fios sem você.
Toda a tentativa de ser e apenas. Sem carregar
Dilemas, cromossomos, nomes
arbitrários, afeto distraído:
Bálsamo, balsamar,
Invisível, eu sei.
Vago, vago. Como uma rã
apressada demais amaciando os pulos em vitórias régias alucinadas com tudo o
que vê.
Não sobra nada de essência.
Não há nada mais leve e representativo do que o pensamento. Pensar é viver.
Errado. Pensar é existir. Viver é diferente Existir.
Errado.
foi com esse conto que eu tive o meu primeiro contato com
o livro, um pouco antes do seu lançamento.
acabei de comprar o livro do psicólogo suíço
max lüscher
intitulado
“ teste das cores”.
(o teatro está me
fazendo mergulhar ainda mais nesse universo colorido).
max realizou “um estudo do ser humano em um teste com
sensações cromáticas e acromáticas”. ele chegou às seguintes conclusões:
“O azul é indicativo de plena calma; um indivíduo que se
encontra doente e que deseja recuperar-se rapidamente escolhe esta cor; mas o
mesmo também se torna sensível e tende a magoar-se;
Pode-se concluir
assim que doenças como a acne e o eczema, muitas vezes podem estar ligadas a
relações perturbadas que envolvem ternura, amor ou afeto íntimo, como a
família, o casamento e o amor jovem.”
“O ‘orgônio’ seria a energia cósmica primordial e
onipresente, de cor azul, responsável pelo clima, cor do céu, gravidade,
formação das galáxias e manifestações biológicas das emoções e sexualidade.”
um outro psicólogo chamado j. (juan?) bamz, tem como base a preferência das cores de acordo
com os anos de vida:
azul: de 40 a 50 anos – idade da inteligência e do
pensamento;
sendo a cor azul muitas vezes vinculada ao intelecto,
trabalhar com ela não é para qualquer um. vide de exemplo o poeta carioca
rodigo de souza leão que publicou em seu blog o seu último
poema :
COR AZUL.
A mente esquizofrênica não
funciona bem e boicota, sem os remédios, o tempo todo. Com remédios ficamos
bem. Leves e tranqüilos para o mundo, que é muito bom. Fora as pessoas que não
valem à pena, estas manter distância torna-se necessário. Positive Vibrations.
Thursday, June 25, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão
at 2:13 PM 16 comments
ninguém melhor do que uma escritorA
(com “A”)
para lidar com esse universo das mãos azuis.
e bia se entende muito bem com a cor azul:
Silêncio
satisfeito
Eu só queria ter sido sensível,
queria ter chorado com a sua pele.
“Silêncio comum. Silêncio
gigante. Silêncio maior que o amor. Silêncio constrangido. Silêncio mal falado. Silêncio eu. Silêncio você. Silêncio eu.
Silêncio eu. Silêncio dias que não chegam. Silêncio eu. Silêncio
perdão. Silêncio eu. Silêncio você.
Silêncio eu. Silêncio você. Silêncio eu.
Silêncio paixão. Silêncio eu. Silêncio azul (...)”
deve ser por isso que bia recorre a um eu-lírico APARENTEMENTE masculino:
(...) suspensão do juízo: a
verdade é um sonho.
ela riu. Que ninguém dorme
para sonhar.
soltei-a feliz.
instigava-me nela seu prazer
pelo inconsciente(...)
ainda sim, bia não perde a sua cor:
Dança íntima e alegre
Um calor azul demais. Braços esguios pretos para um
próximo abraço blues. Gira o encontro. Peles, pelos, pelas, por amor.
Manipula a órbita o descaso. Abraça. Sorri.
Queira. Quente como nunca. Blues o quanto puder. Bocas
fechadas
para não ferir
bia explora ao máximo a cor azul em seu livro. o mesmo
acontece com o livro “versos vermelhos “ do escritor (sem “A) bruno borja , só que de maneira
contrária.
como assim?
o raciocínio lógico de bruno é visível.
basta que você veja o livro com as suas 209 páginas.
(coisa incomum nos
livros de poemas).
e que são
divididos em capítulos:
capítulo: I – revolver
capítulo: II – na sombra da noite
capítulo: III – versos para
viagem
capítulo: IV – as sutilezas
improváveis do caos
capítulo: V – virtualmente
concreto
capítulo VI – modelos mentais em
elevado grau de abstração
abusado,
o ápice de se raciocínio lógico nos é apresentado no
seguinte poema:
FURTA-menTE
a Vladímir
Maiakóvski
de PENA em punho
TEU VERSO pon-
tudo AGUDO
trinca
o ar
rompe
os ouvidos
com
cacos
DE VIDRO
de SOM do
EXTRA-e-b(r)ilho
POLIDO
O mármore-TOMBO
em QUE ELEVA teu busto
e A POESIA te busca
DOBRANDO a ex-
quina
redonda de FOI-SE
estala teu coice
CONTRA
OS MUROS
duros
muros
burros
e já fazes TEUS FUROS...
POETA-cubo!
dos
- ismos
FUTURO
de rima
SEM RUMO
Segue a TRILHA
linha COLORIDA
DO TEU SANGUE
peito langui-
do mais PURO
VERMELHO rubro
desbotada BANDEIRA
ainda FLÂMULA
vista TURVA
embaça MENTE-
te cala!
a voz mais alta
DA REVOLUÇÃO
e NÃO (h)ouve teu grio...
MUDO em ti
que bateforte-n(ó)s
OUTROS LOUCOS
de outras bandas
iluminadas de OURO
derrAMADO
DE TEU SOL
manchado em TUAS
nuvens e
tin-tas-TÃO-tuas
pra SEMPRE
nas RUAS
ficam FERIDAS
abertas POR UMA
.
Cor-
t-
ANTE-LÍNGUA!¹
1 Caro leitor, por favor, agora
leia somente as palavras em negrito.
tenho me empenhado em escrever um livro sem título
(nome melhor não há
para esse projeto).
e em uma das páginas do livro tem uma prosa onde a mesma
experiência literária com uma “voz da consciência”, foi empregada no texto afim
de dar um duplo sentido no discurso.
(tudo na vida
carrega o seu duplo).
assim que eu olhei para o poema de bruno, pensei com a
minha consciência:
- é disso que eu estou falando!
apesar de não ter sido o primeiro a publicar tal texto
(para os arianos
isso é motivo de guerra!),
fiquei contente em saber que ao menos caminhamos em
direção ao mesmo destino.
poema não é escrever somente o que você está pensando.
poema não é escrever somente o que você está sentindo.
poemas são criados na capacidade de sintetizar pensamento
& sentimento.
e se a bia consegue explorar as “mãos azuis” por ter o
seu gênero contrapondo seu objetivo,
bruno, com todo seu raciocínio lógico, explora a
ideologia vermelha da viceralidade.
GOTAS DE SANGUE
Um amor, só lâmina
De faca amolada
Em pedra de mármore
Coração duro
E frio
Que dá corte
Que dá fio
Ao pedaço de aço
Rasgando a carne
Olhar agudo
Penetra fundo na alma
Faz-se noite alta
Penumbra
Fim de tarde em dia de chuva
Cabelos molhados
Grudados na testa
Com ar de desespero
Sente-se cheiro
Lânguido
Do sangue quente
E forte
Que escorre do cabo
Punho de faca cravado
De vermelho
Mancha as roupas
Gota por gota...
Desfaz-se em poça
O amor
Que está em mim
Não mais!
não por acaso,
os russos, pais do formalismo, inventaram também o
exército vermelho.
país esse que em temporadas de inverno seu clima pode
chegar a ter -40°C a -50°C
(especificamente na
Sibéria, região norte do país),
fico me perguntando se o comunismo não foi a maior ideia
russa para combater o frio.
(deixo essa tese para um outro dia...).
até porque,
quais são as comédias russas e quais são as tragédias
russas mais famosas em sua literatura?
e se independente do clima,
a sociedade “literária” em sua maioria é fria,
bruno é um dos poucos literários que não tem medo de se
assumir comunista.
até porque ele,
assim como oswald
de andrade,
Reconhecem o valor daqueles que nasceram num país
tropical
Dilúvio
a Oswald de Andrade
Chove na cidade-mar
Escorre entre os dedos
Mais um verão
Março ano-novo tempestade
Dispersão de Carnaval
O povo correndo
Água nas canelas!
e o que dizer dos estudos feitos pelo psicólogo de j.
bamz sobre a cor vermelha?
Vermelho: 01 a 10 anos – idade da
espontaneidade e da efervecência.
ou das pesquisas elaboradas por max lüscher ?
“O vermelho revela uma vida intensa
e liderança. É impulso, avidez e força de vontade, em oposição ao verde que é
elasticidade da vontade.
O vermelho-alaranjado significa desejo, todas
as formas de ânsia e apetite insaciável. Seu conteúdo emocional é o desejo e
sua percepção sensorial é o apetite. É uma cor ativa.”
não por acaso,
bruno borja ao lado de seus companheiros alice souto, luca Argel, lúcia helena & Cia,
formam os super sentais
(digo, super
poetas)
que promovem as oficinas
poéticas FORA DE ÁREA, às quintas-feiras no SESC Tijuca.
o desejo de criar uma nova sociedade; uma nova
universidade; é latente nas palavras do jovem escritor que ousa em cruzar o mar
vermelho. em suas veias corre a necessidade de quem precisa do coletivo. de
quem deseja acabar com todas as formas de repressão e segregações nos meios
literários .
bruno não faz questão de ter o sangue azul,
pelo contrario,
brada o orgulho em ter o sangue vermelho.
“ (...) Furta-cor
De brilho intenso
Magistralmente
Tu és vermelho!
Vermelho
Como a gente...”
eu não procuro levantar a bandeira do azul e muito menos
do vermelho.
prefiro antes,
fincar a minha bandeira no arco-íris
(o único lugar
genuinamente democrático, onde todas as cores convivem em harmonia).
“ eu
me sinto melhor colorido”.