terça-feira, 4 de dezembro de 2012

mãos azuis versos vermelhos



amo as cores.
(por uma letra a mais, e o meu discurso ganha uma outra cor).
desde muito novo eu tive uma certa atração por cores apesar deu nunca conseguir me relacionar tão bem com nenhuma delas. todos os meus desenhos eram em preto e branco.

meu primeiro flerte começou através dos jogos de vídeo-games.
(meu primeiro contato com o mundo lisérgico, eu diria).
em minha adolescência, as cores chegaram até mim através das películas de pedro almodóvar (nos filmes de almodóvar, nada é de graça).
wes anderson também tem me chamado a atenção ao colocar as cores em seus devidos lugares. vide de exemplo o seu último filme moonrise kingdom.
eu sou do time de almodovar
(cuidado com as palavras...).
apesar das cores pasteis do filme de wes ter me encantado por sua estética “istangram”.

chegando na fase adulta, fui apresentado ao universo psicodélico. e isso me fez perceber ainda mais que o mundo nasce das cores. basta que você feche os seus olhos e verás que antes de surgir qualquer pensamento, nascerá cores dançando em suas retinas.
(é preciso saber colorir as ideias).

como não lembrar do programa que me fez entender um pouco mais como é que funcionam as cores:os  super sentai .
(power ranges, se você preferir a versão norte-americana).
através deles eu pude perceber que as cores estão intimamente relacionadas às nossas personalidades. vejamos:

o ranger vermelho normalmente é o líder;
o ranger azul costuma ser o braço direito do líder;
o ranger amarelo variava entre os personagens femininos e masculinos e quase sempre era excêntrico;
o ranger rosa dava o tom feminino à equipe;
e algumas vezes víamos rangers brancos que eram superiores aos demais; os rangers verdes junto  com os rangers azuis formavam a parte “racional” da equipe; e outras cores inusitadas que apareciam ao longo da série.

coincidência
(ou não),
acabo de ler dois livros coloridos demais para eu deixar passar assim pelos meus olhos despercebidos: “versos vermelhos” de bruno borja & “mãos azuis” de anna beatriz mattos.

por uma questão de ordem alfabética, e de cavalheirismo
(com “H” de “homein?”),
irei começar a “viajar”
(como diria dona alice souto)
pelas mãos azuis de bia
(“bia”para os amEGOS).
o livro é azul
o livre também:

Sobre o azul

Mãos azuis são mãos que tocam o céu. Ser azul é estar sentado sobre a pedra alta da cidade e observar que no meio das ondas, das pedras, dos trovões da chuva que já vem, dos sorrisos. No meio de tudo isso há uma calmaria lenta. Estar azul é conseguir sorrir enquanto seu coração aperta. O azul é um deixar de ser distância. É chegar mais para perto, mais para dentro.
 A palavra impossível é amar. Eu escrevo para que as flores não tenham medo e para que as pessoas sejam menos bonitas por fora. Para que os rios façam mais barulho e que esse seja o eco do caos. E que, em vez dessa sujeira e de alienígenas sentimentais, surjam raios laranja logo ao amanhecer. E que cada passo à noite seja uma estrela. Para que tenhamos tempo para os passos e para as estrelas. E que se houver morte, que haja sensibilidade. Para que as pessoas tenham coragem de comer as nuvens. Para que parem com esta entrega tão distante.
 Eu vou seguir a política das minhas próprias mãos. O azul é o que faz o coração bater. É o que vem depois do choro. O achado. É o que está por trás. É o que já esteve em nós.

coloco o meu nariz preto em cima das letras.
- huuuuunf!
sinto o cheiro pelas letras. é cheiro de fêmea.
um ponto para bia,
um conto para mim:

IV
OBRAHUMANA

Tira o teu pedaço direito. Tira os teus erros. Tira sua alma toda, a esquerda. Pense no que sobra, no que és. No que não pode ser. No que sempre viu sendo. No que sempre foi deixando. Para mias tarde, para nunca mais, para sempre adeus, para sempre um fim, para sempre não e não e não martelando. Ai, a mão cheia de maldade, martelando. Martelando. Desafia a ponta da lança: contraopeito. Tira tudo o que veio contigo. Formando na placenta, na quarentena biológica de acostumação do ser. Tira tudo e deixa só o que pensas agora, os dias depois do primeiro choro. Tua morte prematura me aflige. Tira tudo isso de você, antes que o espelho seja cruel demais., antes que eu ou os outros digam o reflexo. Entorna em quem tu és. Destorna-te. Detone-se. Acabe-se em fios de cabelos esvoaçados, sem um corpo, sem sustentabilidade na alma fria, insegura. Fios soltos, dispersos, em queda. Foi em balsa, em mar. Fios sem você.

 Toda a tentativa de ser e apenas. Sem carregar
Dilemas, cromossomos, nomes arbitrários, afeto distraído:

                                                                          Bálsamo, balsamar,
Invisível, eu sei.
Vago, vago. Como uma rã apressada demais amaciando os pulos em vitórias régias alucinadas com tudo o que vê.

Não sobra nada de essência. Não há nada mais leve e representativo do que o pensamento. Pensar é viver. Errado. Pensar é existir. Viver é diferente Existir.

Errado.

foi com esse conto que eu tive o meu primeiro contato com o livro, um pouco antes do seu lançamento.

acabei de comprar o livro do psicólogo suíço max lüscher intitulado “ teste das cores”.
(o teatro está me fazendo mergulhar ainda mais nesse universo colorido).
max realizou “um estudo do ser humano em um teste com sensações cromáticas e acromáticas”. ele chegou às seguintes conclusões:

“O azul é indicativo de plena calma; um indivíduo que se encontra doente e que deseja recuperar-se rapidamente escolhe esta cor; mas o mesmo também se torna sensível e tende a magoar-se;
 Pode-se concluir assim que doenças como a acne e o eczema, muitas vezes podem estar ligadas a relações perturbadas que envolvem ternura, amor ou afeto íntimo, como a família, o casamento e o amor jovem.”

wilhelm reich teve a seguinte conclusão sobre o orgônio:

“O ‘orgônio’ seria a energia cósmica primordial e onipresente, de cor azul, responsável pelo clima, cor do céu, gravidade, formação das galáxias e manifestações biológicas das emoções e sexualidade.”

um outro psicólogo chamado j. (juan?) bamz, tem como base a preferência das cores de acordo com os anos de vida:

azul: de 40 a 50 anos – idade da inteligência e do pensamento;

sendo a cor azul muitas vezes vinculada ao intelecto, trabalhar com ela não é para qualquer um. vide de exemplo o poeta carioca rodigo de souza leão que publicou em seu blog o seu último poema :

COR AZUL.

A mente esquizofrênica não funciona bem e boicota, sem os remédios, o tempo todo. Com remédios ficamos bem. Leves e tranqüilos para o mundo, que é muito bom. Fora as pessoas que não valem à pena, estas manter distância torna-se necessário. Positive Vibrations.

Thursday, June 25, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 2:13 PM 16 comments

ninguém melhor do que uma escritorA
(com “A”)
para lidar com esse universo das mãos azuis.
e bia se entende muito bem com a cor azul:

Silêncio satisfeito

Eu só queria ter sido sensível,
queria ter chorado com a sua pele.      

“Silêncio comum. Silêncio gigante. Silêncio maior que o amor. Silêncio constrangido. Silêncio mal falado. Silêncio eu. Silêncio você.  Silêncio eu.  Silêncio eu. Silêncio dias que não chegam. Silêncio eu. Silêncio perdão.  Silêncio eu. Silêncio você. Silêncio eu. Silêncio você.  Silêncio eu. Silêncio paixão. Silêncio eu. Silêncio azul (...)”

deve ser por isso que bia recorre a um eu-lírico APARENTEMENTE masculino:

(...) suspensão do juízo: a verdade é um sonho.
ela riu. Que ninguém dorme para sonhar.

soltei-a feliz.
instigava-me nela seu prazer pelo inconsciente(...)

ainda sim, bia não perde a sua cor:

Dança íntima e alegre

Um calor azul demais. Braços esguios pretos para um próximo abraço blues. Gira o encontro.                Peles, pelos, pelas, por amor. Manipula a órbita o descaso. Abraça. Sorri.
Queira. Quente como nunca. Blues o quanto puder. Bocas fechadas
para não ferir

bia explora ao máximo a cor azul em seu livro. o mesmo acontece com o livro “versos vermelhos “ do escritor (sem “A) bruno borja , só que de maneira contrária.
como assim?

o raciocínio lógico de bruno é visível.
basta que você veja o livro com as suas 209 páginas.
(coisa incomum nos livros de poemas).
 e que são divididos em capítulos:

capítulo: I – revolver
capítulo: II – na sombra da noite
capítulo: III – versos para viagem
capítulo: IV – as sutilezas improváveis do caos
capítulo: V – virtualmente concreto
capítulo VI – modelos mentais em elevado grau de abstração

abusado,
o ápice de se raciocínio lógico nos é apresentado no seguinte poema:


FURTA-menTE

                            a Vladímir Maiakóvski

  de PENA em punho
  TEU VERSO pon-
   tudo AGUDO
  trinca o ar
  rompe os ouvidos
   com cacos
                                          DE VIDRO
  de SOM do
                EXTRA-e-b(r)ilho
  POLIDO
                                                 O mármore-TOMBO
  em QUE ELEVA teu busto
  e A POESIA te busca
  DOBRANDO a ex-
 quina  redonda de FOI-SE
                                                    estala teu coice
 CONTRA OS MUROS
 duros
                   muros
                                     burros
 e já fazes TEUS FUROS...
 POETA-cubo!
 dos
                       - ismos
 FUTURO de rima
                                                   SEM RUMO
 Segue a TRILHA
 linha COLORIDA
            DO TEU SANGUE
 peito langui-
                                     do mais PURO
 VERMELHO rubro
 desbotada BANDEIRA
                                              ainda FLÂMULA
                vista TURVA                                                                          
                embaça MENTE-
te cala!
                 a voz mais alta
                                           DA REVOLUÇÃO
e NÃO (h)ouve teu grio...
MUDO em ti
que bateforte-n(ó)s
OUTROS LOUCOS
                        de outras bandas
iluminadas de OURO
derrAMADO
                           DE TEU SOL
manchado em TUAS
nuvens e
tin-tas-TÃO-tuas       

pra SEMPRE
                             nas RUAS
ficam FERIDAS
                            abertas POR UMA
.
Cor-
               t-
                           ANTE-LÍNGUA!¹



1 Caro leitor, por favor, agora leia somente as palavras em negrito.


tenho me empenhado em escrever um livro sem título
(nome melhor não há para esse projeto).
e em uma das páginas do livro tem uma prosa onde a mesma experiência literária com uma “voz da consciência”, foi empregada no texto afim de dar um duplo sentido no discurso.
(tudo na vida carrega o seu duplo).
assim que eu olhei para o poema de bruno, pensei com a minha consciência:
- é disso que eu estou falando!
apesar de não ter sido o primeiro a publicar tal texto
(para os arianos isso é motivo de guerra!),
fiquei contente em saber que ao menos caminhamos em direção ao mesmo destino.

poema não é escrever somente o que você está pensando.
poema não é escrever somente o que você está sentindo.
poemas são criados na capacidade de sintetizar pensamento & sentimento.
e se a bia consegue explorar as “mãos azuis” por ter o seu gênero contrapondo seu objetivo,
bruno, com todo seu raciocínio lógico, explora a ideologia vermelha da viceralidade.

GOTAS DE SANGUE

Um amor, só lâmina
De faca amolada
Em pedra de mármore
Coração duro
E frio
Que dá corte
Que dá fio
Ao pedaço de aço
Rasgando a carne
Olhar agudo
Penetra fundo na alma
Faz-se noite alta
Penumbra
Fim de tarde em dia de chuva
Cabelos molhados
Grudados na testa
Com ar de desespero
Sente-se cheiro
Lânguido
Do sangue quente
E forte
Que escorre do cabo
Punho de faca cravado
De vermelho
Mancha as roupas

Gota por gota...

Desfaz-se em poça
O amor
Que está em mim

Não mais!

não por acaso,
os russos, pais do formalismo, inventaram também o exército vermelho.

país esse que em temporadas de inverno seu clima pode chegar a ter -40°C a -50°C
(especificamente na Sibéria, região norte do país),
fico me perguntando se o comunismo não foi a maior ideia russa para combater o frio.
(deixo essa tese para um outro dia...).

até porque,
quais são as comédias russas e quais são as tragédias russas mais famosas em sua literatura?

e se independente do clima,
a sociedade “literária” em sua maioria é fria,
bruno é um dos poucos literários que não tem medo de se assumir comunista.
até porque ele,
assim como oswald de andrade,
Reconhecem o valor daqueles que nasceram num país tropical

Dilúvio
        
a Oswald de Andrade

Chove na cidade-mar
Escorre entre os dedos
Mais um verão
Março ano-novo tempestade
Dispersão de Carnaval
O povo correndo
Água nas canelas!


e o que dizer dos estudos feitos pelo psicólogo de j. bamz sobre a cor vermelha?

Vermelho: 01 a 10 anos – idade da espontaneidade e da efervecência.

ou das pesquisas elaboradas por max lüscher ?

“O vermelho revela uma vida intensa e liderança. É impulso, avidez e força de vontade, em oposição ao verde que é elasticidade da vontade.
 O vermelho-alaranjado significa desejo, todas as formas de ânsia e apetite insaciável. Seu conteúdo emocional é o desejo e sua percepção sensorial é o apetite. É uma cor ativa.”

não por acaso,
bruno borja ao lado de seus companheiros alice souto, luca Argel, lúcia helena & Cia,
formam os super sentais
(digo, super poetas)
que promovem as oficinas poéticas FORA DE ÁREA, às quintas-feiras no SESC Tijuca.

o desejo de criar uma nova sociedade; uma nova universidade; é latente nas palavras do jovem escritor que ousa em cruzar o mar vermelho. em suas veias corre a necessidade de quem precisa do coletivo. de quem deseja acabar com todas as formas de repressão e segregações nos meios literários .
bruno não faz questão de ter o sangue azul,
pelo contrario,
brada o orgulho em ter o sangue vermelho.

“ (...) Furta-cor
De brilho intenso
Magistralmente
Tu és vermelho!
Vermelho
                     Como a gente...”

eu não procuro levantar a bandeira do azul e muito menos do vermelho.
prefiro antes,
fincar a minha bandeira no arco-íris
(o único lugar genuinamente democrático, onde todas as cores convivem em harmonia).

como diria o poeta psicodélico torquato neto:

eu me sinto melhor colorido”.