segunda-feira, 7 de maio de 2012

Os xamãs da tribo

ciúme da poesia

perdido na palhoça
som de pescoço duro
dorso retorcido descomunal
largando a cirene do cio
e fumaça de folha de uva
ela não me permite
conversar com meu amor
ou mesmo deitar ao seu lado
ela me ordena acordado
subjulgado escravo de pé
a poesia tem ciúme
"os deuses têm ciúmes"
e me quer agarrado
espremendo o rosto
tentando ouví-la
exclusivo implorando
que me abra sua porta
malvada severa
a poesia me desenterra de casa
e me obriga seus caprichos
operário de suas roupas
que lhe desenhe um vestido difícil
sem aviso me escolhe seu ópio
me consome inebriado
tonto de ritmo
fudido de linguagem
- eu tenho uma vida filhadaputa!!
trabalho pra caralho...
ela gargalha e exige a trepada
eu sou seu muso de hoje


obrigado

5

Suas roupas
Dão bandeiras
No meu varal

Vou tirá-las agora

Espero sejam só roupas
Sentir seu corpo seria
Demais para a minha saudade

um último jantar

E essa
extraordinária
falta guarda tua
ausência

e essa essência sem
charme estranhamente
ganha minha gente

seu suco
respira minha guelra
agarra desesperada
alga lânguida do fundo

no fim
faria afagos
no afastamento

aparto nesse
apartamento
o corpo em pé
partido

seu olhar
pedra de moinho
mantém um soco doce

dorme
o tumulto dentro
do dia marcando o
mar motivo do olho

em leito livre
acolho outro agora
fera de aquário cabe
em convívio ríspido

quase come comigo
em paz faz meu erro
gorjeio quando ama
o silêncio

a fome fica
antes para
depois

para quem ainda não conhece, estes lindosos poemas são do poeta Pedro Rocha e foram publicados no seu segundo livro intitulado "chão inquieto" lançado pela 7Letras. Pedrão é da velha guarda do CEP 20.000 e é descendente direto do xamã Ericson Pires. "Chão Inquieto", assim como "Pele Tecido" do Ericson, é uma obra que necessita de um condicionamento físico bem preparado para a sua leitura. Os poemas passam pelo corpo feito curto-circuito. É preciso estar atento e forte.