ciúme da poesia
perdido na palhoça
som de pescoço duro
dorso retorcido descomunal
largando a cirene do cio
e fumaça de folha de uva
ela não me permite
conversar com meu amor
ou mesmo deitar ao seu lado
ela me ordena acordado
subjulgado escravo de pé
a poesia tem ciúme
"os deuses têm ciúmes"
e me quer agarrado
espremendo o rosto
tentando ouví-la
exclusivo implorando
que me abra sua porta
malvada severa
a poesia me desenterra de casa
e me obriga seus caprichos
operário de suas roupas
que lhe desenhe um vestido difícil
sem aviso me escolhe seu ópio
me consome inebriado
tonto de ritmo
fudido de linguagem
- eu tenho uma vida filhadaputa!!
trabalho pra caralho...
ela gargalha e exige a trepada
eu sou seu muso de hoje
obrigado
5
Suas roupas
Dão bandeiras
No meu varal
Vou tirá-las agora
Espero sejam só roupas
Sentir seu corpo seria
Demais para a minha saudade
um último jantar
E essa
extraordinária
falta guarda tua
ausência
e essa essência sem
charme estranhamente
ganha minha gente
seu suco
respira minha guelra
agarra desesperada
alga lânguida do fundo
no fim
faria afagos
no afastamento
aparto nesse
apartamento
o corpo em pé
partido
seu olhar
pedra de moinho
mantém um soco doce
dorme
o tumulto dentro
do dia marcando o
mar motivo do olho
em leito livre
acolho outro agora
fera de aquário cabe
em convívio ríspido
quase come comigo
em paz faz meu erro
gorjeio quando ama
o silêncio
a fome fica
antes para
depois
para quem ainda não conhece, estes lindosos poemas são do poeta Pedro Rocha e foram publicados no seu segundo livro intitulado "chão inquieto" lançado pela 7Letras. Pedrão é da velha guarda do CEP 20.000 e é descendente direto do xamã Ericson Pires. "Chão Inquieto", assim como "Pele Tecido" do Ericson, é uma obra que necessita de um condicionamento físico bem preparado para a sua leitura. Os poemas passam pelo corpo feito curto-circuito. É preciso estar atento e forte.
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