quinta-feira, 1 de novembro de 2012

poesia a(ra)uto-sustentável


após um longo período me alimentando de livros com temas pesados para digestão
(astrologia, teatro, pedagogia, psicologia, teoria da personalidade...)
resolvo trocar o prato por um livro de poemas, sobremesa essa que nos faz comer um poeminha de cada vez para ter aquele gostinho de doce no céu da boca.

“poesia auto-sustentável” de alice souto é o meu prato principal.

sempre que resolvo me olhar no espelho sou pEgo pela seguinte frase estampada em minha face, sem l(b)ook:

“você é aquilo que escreve”.

(sou imperativo. não aceito perguntas).

estudando sobre a teoria da personalidade, acabo esbarrando em assuntos que dizem respeito não só a mim, mas a toda so(a)ciedade.

a astrologia,
ciência essa que nem todos consideram sendo LÓGICA,
me caiu como uma LOVE.
                            (UVA)
não há uma pessoa que tenha nascido no ocidente
(ou que não tenha visto os cavaleiros do zodíaco)
que não conheça a turma do zo(o) díaco.

sendo assim,
fica mais fácil visualizarmos que tipo de personagem nós somos obrigados a interpretar
(favor não confundir com REPRESENTAR)
como carma por termos nascido sob aquela constelação, com o sol exatamente naquela posição, naquela estação e naquele horário.

já con fé sei que tenho uma certa atração
(aliás, atrações precisam ser cer tas).
pelos poemas concebidos pelas mão(e)s daquelas que já nascem com estas “delicadas”. e é com essa mes mamão que alice demonstra
céu lado lib(r)idinoso em ser racional.                                                                                                                (AR)

Entre teus dedos

Entre teus dedos
Entendo Deus
Palavras vans
Nuvem de ais
Se penso paz
Meu corpo pede mais

Aguardo e ardo
Pelas manhãs
Anseios inundam
Segundas segundos
Os seis inflamam

Ama, derrama, chama
Só sossega quando abre
Mãos, braços
Abre as pernas ao cansaço

Não terá sido por isto
Todo o sangue de Cristo?
 Sacrifício, sacro ofício
A arte em muitos sentidos

Debaixo do meu umbigo
Artesão me dê a mão!
Ah tesão entre teus dedos
 Tateia sem manual
Meu corpo cego
Aceita não nega
Entrega sem medo

as palavras escorrem entre os dedos dessa menina com o su-ó! daqueles operários que trabalham com a palavra:

O Poeta-Operário
de Vladimir Maiakovski
(1893-1930)

Grita-se ao poeta:
“Queria te ver numa fábrica!
O que? versos? Pura bobagem!
Para trabalhar não tens coragem.”
Talvez
ninguém como nós
ponha tanto coração
no trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés
me faltam
talvez
sem chaminés
seja preciso
ainda mais coragem.
Sei.
Frases vazias não agradam.
Quando serrais madeira
é para fazer lenha.
E nós que somos
senão entalhadores a esculpir
a tora da cabeça humana?
Certamente que a pesca
é coisa respeitável.
Atira-se a rede e quem sabe?
Pega-se um esturjão!
Mas o trabalho do poeta
é muito mais difícil.
Pescamos gente viva e não peixes.
Penoso é trabalhar nos altos-fornos
onde se tempera o ferro em brasa.
Mas pode alguém
acusar-nos de ociosos?
Nós polimos as almas
com a lixa do verso.
Quem vale mais:
o poeta ou o técnico
que produz comodidades?
Ambos!
Os corações também são motores.
A alma é poderosa força motriz.
Somos iguais.
Camaradas dentro da massa operária.
Proletários do corpo e do espírito.
Somente unidos,
somente juntos remoçaremos o mundo,
fa-lo-emos marchar num ritmo célere.
Diante da vaga de palavras
levantemos um dique!
Mãos à obra!
O trabalho é vivo e, novo!
Com os aradores vazios, fora!
Moinho com eles!
Com a água de seus discursos
que façam mover-se a mó!
    
a diferença que há nos “poemas femininos”, entre a mão que escreve e a cabeça que pensa, é justamente o gênero. e o que há entre alice e as outras escritoras é o fato dela não ser introvertida
(há nos introvertidos uma “necessidade” maior de se satisfazer apenas com o mu(n)do de dentro).
isso faz com que alice aja com o espírito libriano, com aquilo que eles sabem fazer de melhor: COMUNICAR.

V. Mimosa

Eu como capim, sim
Pode botar
Vinte de mim pra cada touro
To nem aí!

Encurralada
Eu não reclamo
Que sujo o rabo
Na sua lama

Me sento
Sem pressa
Questionamento
Não me interessa
Filosofia?
É só história pra boi dormir
Tô nem aí!
   
Pode me comer, seu touro
E me arrancar o couro
Que depois de mim, como capim
Virá outra
Vaca louca

Me babo toda
Engulo e cuspo
Sem asco ou ânsia
Pela resposta

E ainda me diz sagrada?
Pois te revelo nas retinas
O segredo é que rumino
E mais nada.



A vida convida

Amigo, se toca
Tá na cara
Só tapado não entende
Que a vida bate
E não é tapa
Que isso não é só teatro
Isso é teatro
E é a vida em ato.
Escuta!

A vida vibra
Como vidro
Ávida a vida convida:
- A vida brinda
- A vida brinca
- Beba vida
-   Tim Tim
- É só dizer sim!

Ora se toca amigo
Que todo esse ato
É só pra te tocar!
Com vida
Duvida?
- Só acredito se eu puder tocar

Então se toca!

A corda toca tá na cara só tapado não
entende que a vida bate e não é tapa que isso
não é só teatro isso é teatro e isso sou eu
aqui no palco de graça no ato com tato
contato contato...

A vida vibra
Poesia
Convida!

após ter tido mais um insight-eructativo sobre pedagogia, lembrei que nela (pedagogia) a comunicação é essencial quando se quer conhecer o mundo dos outros.
e nesse universo de pedagogia e ensino, lembro das palavras do professor pignatari:

“Hoje, quando “comunicação” se vai transformando em prato trivial, é comum que intelectuais se pronunciem sobre comunicação de maneira indiscriminada, cândidamente ignorantes, ou esquecidos, de que os homens e os grupos humanos, como os animais, de resto, só absorvem a informação de que sentem necessidade e/ou que lhes seja inteligível... (...) É assim que vemos multiplicarem-se, pelo Brasil, cursos de comunicação, inclusive ao nível universitário, que não passam, na maioria, de psicologismos, métodos áudio-visuais e relações públicas (...)”

(trecho retirado do livro “ Informação.Linguagem. Comunicação.” de Décio Pignatari (editora perspectiva).
by the way,
ouvi dizer que o professor de cio pig n’ ATARI é do signo de leão (egocêntrico, dizem...) .)

seria óbvio se alice estudasse comunicação social, mas como a comunicação é um atributo libriano, ela utiliza-o em sua carreira como psicóloga.

para ser ainda mais preciso, alice é do time de wilhelm reich – cientista, perseguido pela FDA (a agência do governo americano que regula gêneros alimentícios e medicamentos), sendo acusado de fraude. foi condenado a dois anos de prisão e teve todas as suas obras proibidas. um ataque cardíaco o matou na prisão.

reich, que começou sua carreira como psicanalista, focou seus estudos  na sexualidade e descobriu que a vida é uma necessidade biológica em todos os seres orgânicos.
há nesses seres uma “energia vital”, energia essa  presente em todos os seres orgânicos, denominada por ele de ORGÔNIO (ORGONE).
o cientista também descobriu que o nosso corpo funciona de maneira “funcional”, sendo a mente e o corpo dois lados de uma mesma moeda.
(fico me perguntando se reich não foi oque chegou  mais próximo de descobrir a origem da poesia).

com isso nós podemos perceber que aqueles que são librianos e extrovertidos precisam “receber informações” do mundo. é uma questão de energia vital:

Intercâmbio caracol

Foi mal
Não fiz intercâmbio cultural
Então por favor me diz
Quem é o tal...do Baudelaire
Quem é Baudelaire?
Quem é?

Nunca vi entardecer na França
Não toquei piano em criança
Mas tomo muito sol.

Você conhece o caracol?

Avenida Brasil
Sete da matina passarela em
espiral
É fila atrás de fila na van pra
Copacabana
Senta no banquinho e corta
caminho pela maré
No intercambio Caracol não se
fala em Baudelaire


Intercâmbio Catumbi

Da janela do 485
A cidade em cena- viagem
Moleque poema
Pede passagem

Bichos, oficinas e meninas
Putas, ou moças com calor
De submissão nem sinal
Semblante de quem tem
O samba no quintal

Pode até rir
Meu intercâmbio cultural
Passa pelo catumbi

Porque sonhar só com o Leblon?
Vai querer meu sonho são?

Sono lento, engarrafado.
Cerveja, boteco
Cortiço, sobrado
É querer demais querer tão pouco?
Nada...Sonho bom é sonho louco!

e é desse jeito que eu vou descobrindo alice: através de suas palavras.
hoje eu posso dize-la com segurança que eu e o meu clone ainda estamos na fase de “intro- versinho & versão”,
(arianos são egoístas, dizem...)
devido ao ex-porro que tomamos dela no CEP 20.000, evento do então poetão chacal,
(ouvi dizer que chacal é do signo de touro, teimoso, dizem...)
por não decorarmos os nosso poemas.
(é que eu ainda prefiro escrever para ser ouvido. é uma maneira de me (re) conhecer sempre que pegar em meus textos não de cor ados).

enquanto algumas pessoas tentam de tudo para manter a sua imagem, desperdiçando milhões de segundos tentando man-ter aquela imagem que sustente suas palavras, sua faculdade, seu intercâmbio cultural; alice vai levando sua poesia de forma espontânea e por isso se torna a(ra)uto-sustentável.
ela não precisa manter uma imagem, sua imagem libriana lhe sustenta. está explícito:

Poema de língua

Com a letra na ponta da língua.
Não cabem mais palavras na boca de quem beija.
Mas há um bocado de sentido!
Por isso digo: o beijo é linguagem.
Línguas ágeis interagem.
E o transporte é a saliva, que lava a palavra e me leva à ação.
O que em mim ativa: desejo de comunicação.