terça-feira, 18 de outubro de 2011

Elemento Amor

Cataventos

(parte dói sss)


No dia seguinte, Rodrigo como de costume (é costume meu enfiar costumes em todos os lugares, por isso não se espante, leitor) chegou cedo no trabalho. Para passar o tempo, abriu o livro de Nelson. Denise entra nesse exato momento do livro:

Tentava – bom dia – voltar disse para Rodrigo página vento que de vista perdeu.

- Está estudando?

-Não, estou lendo... - o rapaz ficou decepcionado com a sua incapacidade em alegrar as pessoas com respostas certas.

- Ótimo! “Ler é mais importante do que estudar”. Algumas palavras acabam se tornando obsoletas com o passar do tempo.

- É o costume? – pergunta Rodrigo com medo de ter escolhido a pergunta errada.

- Pode ser. Principalmente daqueles que preferem responder com tal palavra ao invés de mudar de costumes.

Com tanta Rodrigo sempre viu da boca os cabelos Denise batiam borboletas sair que desarrumados deixava-o com as asas força.

- Por que você não faz uma faculdade?

- Porque... - ele tentou pensar em alguma coisa que valesse realmente a pena dizer - Porque eu ainda não sei o que fazer... - por via das dúvidas preferiu ficar na dúvida.

- Venha aqui, eu acho que posso te ajudar em encontrar um caminho.

Denise com seus passos foi literalmente varrendo os objetos de sua frente até atravessar a parede da sala sem a menor dificuldade ou preocupação.

Surpreso com aquilo, Rodrigo seguiu-a e por um momento achou que cairia em uma armadilha de papa-léguas. Ele coiote, daria com a cara na parede por não acreditar em desenhos animados. Sorte a dele por existirem coisas impossíveis.

Lá dentro, viu estantes repletas de livros. Todos coloridos e com cheiros distintos um do outro.

- Como nós conseguimos atravessar...

-Só aqueles que tem a imaginação fértil são capazes de fazer tal coisa.

Denise tinha toda a segurança de quem tem sempre razão ou melhor, a imaginação fértil.

- É aqui que eu almoço todos os dias. – ela tira um livro da estante e entrega-o – experimente.

Rodrigo pegou o livro Alice No País Das Maravilhas.

Ao mastigar as páginas sentiu o gosto doce de suas palavras: “Se você não sabe para onde ir, não importa que caminho tome...”

Já tinha a resposta. No dia seguinte o rapaz se matriculou no curso de Patafísica.

Rodrigo e Denise criam o costume de sempre almoçarem dentro daquela sala fora da realidade. As barbas do rapaz cresceram de uma tal maneira que ele podia guardar muitos livros dentro dela.

Almoçavam com os grandes pensadores da história: Sócrates, Hegel (antes do prato principal para não causar indigestão), Platão e como sobremesa Foucault; passavam horas discutindo as impossibilidades humanas.

- Você tem filhos?

- eu não....eu tenho medo de passar para os meus filhos toda a minha inteligência e ficar sem nenhuma para mim.

Silêncio.

Freud fingiu que se engasgou com a comida. Nietzsche come de cabeça baixa olhando para o prato.

- Estou brincando!

Todos suspiram aliviados.

Rodrigo já havia se acostumado a não dormir ou ficar acordado (dependendo do gosto do leitor). Passava as noites em claro no escuro conversando com dois amigos: Mario e Oswáld de Andrade.

Estudando as matérias da faculdade: imaginação I e II, imaginou ter escutado o seu telefone tocar. Precisou fechar os livros e voltar para a realidade para saber se tal ocorrido era mesmo fato verídico. Imaginou que pudesse sim ter escutado o telefone e que poderia atendê-lo:

- Alô.

- Oi amor.

- Oi... amor.

- Vamos ao cinema?

- Hoje não posso... Estou estudando - Rodrigo não tinha dificuldade alguma em ser frio.

A conversa foi interrompida por uma terceira pessoa que entrou na linha, o silêncio. Isso estava longe de ser imaginação.

Depois de tanto imaginar coisas, percebeu que estava pronto para a prova da faculdade. E percebeu que a razão deveria ser algo facultativa.

Ensinou o galo da vizinha a cantar canções líricas para que o ajudasse a despertar da sua insônia crônica. O galo parecia ser o único esperto naquele lugar.

Pensou que poderiam fugir de toda aquela tempestade. Ele, ela & sua imaginação longe de ser racional. Decidiram tirar férias. Viajaram para a Europa a fim de respirarem novos ares.

Rodrigo sentia as mudanças em seu corpo. Toda aquela poeira estava saindo de sua pele já condicionada. Seus olhos mudavam de cor e aos poucos, não conseguia mais dizer “Eu te amo” independente de qualquer língua.