segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Elemento Amor

Tudo o que é sólido pode derreter

(parte três)

A vida de Rodrigo roda bruscamente feito uma tempestade de vento levando e levantando tudo o que está em seu devido lugar.

- Vamos ao cinema hoje? – pergunta Débora ao namorado(?) – está estreando um filme muito lindo e... - dizia ela no celular antes de ser interrompido por ele do outro lado da linha.

- Hoje eu não posso...vou estudar para a faculdade.

E foi graças àquele “hoje” que ela chegou atrasada no cursinho de francês e pela a graça do acaso, conheceu Bernardo pela a primeira vez.

Voltava naquele momento, o velho sentimento constrangedor de ser admirada por olhos alheios.

As folhas da árvore do relacionamento começavam a ficar amareladas.

Os beijos já não tinham mais o mesmo sabor de fruta, de maçã de amor, eram amoras...

Tudo dentro de casa criava raízes difíceis de serem removidas. O curso e o trabalho eram os únicos lugares realmente vivos.

- Hoje (sempre o “hoje” como no outro dia) você vai passar aqui em casa?- as palavras de Débora são automáticas.

- hoje eu não vou poder...se lembra que eu marquei de sair com o pessoal do trabalho? você quer ir com a gente? A resposta de Rodrigo são semi-automáticas.

- não....eu tenho alguns trabalhos do curso de francês para fazer.

Ligaram o piloto automático.

Ao desligar o celular, Débora não conseguiu conter as águas que escorriam de seus olhos. Sentiu um peso no ombro, sentiu um calor no corpo.

Bernardo a olhava de longe.

Aqueles segundos de silêncio acolhedor. Bernardo parecia que sabia todo o motivo daquele dilúvio. Seus olhos lhe perguntavam o que nem ela saberia responder.

Disfarçou. E quando o rapaz se virou de costas, viu as penas brancas caindo no chão lentamente.

Por um momento passou pela a sua cabeça a idéia de ter traído o seu pobre namorado, que trabalhava duro para não ficar duro, e dar tudo o que podia para ela.

Rodrigo saiu à noite com o pessoal do trabalho & Denise. Foram todos ao teatro.

Por um ou dois momentos, Denise passou a mão em sua perna (dele). Rodrigo se assustou, mas era só para poder chamá-lo. Ela lhe explicava o que acontecia no palco, o rapaz não sabia o que era teatro contemporâneo.

Depois da peça, foram degustar todo aquele turbilhão de imagens numa mesa de bar.

Denise lhe explicava o que era arte. Arte de vanguarda & arte contemporânea. Rodrigo prestava a atenção encantado. Iria guardar tudo aquilo com o tempo, no tempo que fosse preciso.

A professora ensinando ao aluno o amor, verbo intransitivo, Mario de Andrade,

Algumas palavras dela e já eram suficientes para varrer Débora de seus pensamentos como o vento faz.

Rodrigo, após três copos, sentiu que tinha algo de errado naquilo tudo, além do estomago vazio, o copo vazio, seu vazio era no fundo do peito. Sentia que traía sua namorada que estava naquele momento em casa, dividindo sua solidão com os estudos.

No dia seguinte, decidiram voltar para o parque, buscar aquele velho paraíso perdido.

Sentados no banco, pareciam iguais as árvores, intactas. Sentiam-se como dois estrangeiros em terras desconhecidas.

Com as mãos dadas, tentavam manter firme o eterno nome no tronco da árvore. Sobrevivendo a todas as mudanças climáticas que derrubam as folhas velhas dos galhos.