segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Elemento Amor

Cataventos

(parte treix)



- Vamos ao teatro?

Por pouco o rapaz quase respondeu “Eu te amo”. Mas ele se deu conta de que estava no refeitório do trabalho. Denise olhava para ele na esperança de receber alguma resposta, qualquer resposta. Enquanto os funcionário não os enxergavam. Os dois eram os únicos com os olhos caleidoscópicos.

Pensou. Pensar é relacionar imaginação com intelecto. Todo pensamento carrega em si uma imagem em ação. Eu penso que sei o que eu estou escrevendo, logo o meu pensamento carrega dentro de si a imagem de quem sabe que no final vai tirar uma boa nota na prova. Imaginar e pensar estão mais próximos um do outro do que você pode pensar ou imaginar.

Teria respondido isso na prova de imaginação I. Mas Denise continuava esperando alguma palavra que saísse de sua boca.

Ela era bem mais velha do que ele. E não era a sua beleza que lhe chamava a atenção, eram suas palavras que sempre embaralhavam as suas idéias. Algo saía da boca de Denise e era tão belo que se transformava em um único ser. Um cardume de borboletas voava como peixes no m(ar). O rapaz até que tentou entender tudo aquilo mas foi em vão. Era novo demais para compreender tantas palavras sem sentido. Achava tudo aquilo muito mágico.

Sentado na platéia, Rodrigo pensou que respondeu “Sim” ao convite de sua chefe.

Ele se espantou ao se verem no palco. Os personagens eram exatamente eles: Rodrigo, Débora e Denise.

Mais do que personagens, os atores eram eles mesmo interpretando eles mesmo. Eles mesmo que eu digo são os nossos três personagens e não os da peça. (espero não ter confundido a cabeça e os pensamentos de nossos leitores).

Como era estranho assisti-los de longe. Viu na pele o que era o distanciamento Brechtiano.

Assistiu a vida como ela é: uma tempestade com muito som e fúria e pouco Milkshake de Shakespeare.

Após o jantar no teatro, decidiram fazer a digestão num bar. Ainda com dificuldades em engolir algumas idéias, Rodrigo não se segurou e arrotou uma delas:

- Você acredita no amor? – silêncio em todo o bar. Foco na mesa do casal. Denise disfarça colocando o cabelo para de trás da orelha. Dá uma risada de leve.

- O amor... Se tem algo que nunca deveria ter sido gramaticado, esse algo é o amor. Ele nunca foi refúgio para ninguém. Muito pelo contrario, ele expõe. Somos livres para amar mas nunca estaremos livres do amor. Ele é absoluto. Enquanto tiver uma pessoa no mundo sofrendo, existirá o amor. Nós não enxergamos o amor porque ele é abstrato. Só quando você estiver bem velhinho, se dará conta de que esteve o tempo todo perto de amar mas nunca conseguiu enxergá-lo.

As luzes se acendem. Todos aplaudem Denise de pé. O garçom lhe traz um buquê de flores em uma bandeja. Flashes de câmeras e rosas são jogadas em cima dela.

Rodrigo emocionado, pensa, imagina, lembra de Débora.

No dia seguinte o casal voltou para o velho parque que em outros tempos cultivou o brilho da primavera. Lembrou-se do catavento que sobrevive aos ventos. Um catavento não é catavento até o momento em chega o vento. Só assim ele pode mostrar sua função, sua identidade e sua beleza simples de ser um catavento.

Poesia à parte, Rodrigo tentou segurar a mão de Débora com força para que eles não se separassem no meio daquele furacão.

Não importa o que o homem faça, Amar é sempre estar condenado à liberdade das escolhas. É estar disposto a escolher.

Não pensou em mais nada, não imaginou coisa alguma.

Sartre é mesmo o cupido que sempre esteve certo o tempo todo.