sou contra aqueles que acreditam que a poesia é
intocável.
para mim, quanto mais toques ela tiver mais excitada ela
fica. o lápis pica duro e as palavras começam molhadas de prazer.
além de mim, acredito que existam tantos outros poetas,
ou poeteiros,
que torcem para que a poesia saia debaixo da saia da
mamãe, levante a saia e mostre aquilo que ela tem de melhor (para quem quiser
enxergar, é claro).
as melhores poesias são aquelas que se escondem nos
confins do uni verso. são aquelas que você só vai encontra-las no silêncio do
metrô, no sinal da rio branco ou nos passos rápidos na avenida passos dos
transeontens que vivem com pressa para chegar ao amanhã. são poesias que nos chegam
como um sopro (ninguém escuta um sopro).
o mineiro heyk pimenta sopra esse sopro poético.
(haja fôlego!).
“Eu sopro
o sopro”
em seu livro de poemas intitulado “sopro sopro”,
o peta
contemporâneo e com tempo errôneo,
caminha pelas selvas da cidade em busca de poesia!
como no poema de nome “A rua tempo”, onde ele “mais que marginal imaginário” caminha pela
voluntários enquanto “inventa romances
bailarinos”.
os “pregos do
silêncio”, o “desejo, prisão e
exílio”, os” tempos de febre”, tudo
se torna poesia sob olhar desse cientista social que luta por um lugar da
poesia na sociedade.
para que isso ocorra, será preciso que ele, assim como
gullar e piva (só para mencionar rapidamente), entre no ventre da terra.
é dentro do organismo vivo (ou sistema, como queiram
chama-lo) que o poeta pimenta porreta busca a poesia em todos os tipos de corpos:
Soluço morno da fumaça
Todos os opostos
se encontram num salto vaginal
Místicos e angustiados reúnem pregos pra mascar com fumo
Duas calçadas separaram os verbos
Místicos e angustiados reúnem pregos pra mascar com fumo
Duas calçadas separaram os verbos
Enxugou-se o
diário até virar parágrafo
De parágrafo foi à palavra
E com as novas notícias
a interjeição pretende virar silêncio
De parágrafo foi à palavra
E com as novas notícias
a interjeição pretende virar silêncio
[a tradução
inventa o sentimento]
sentir é o silêncio do esgotamento
sentir é o silêncio do esgotamento
Quatro
Milhões de velhices
Pássaros nos traços de um oco
[Caiamento dos timbres]
Som branquiço chupado
Milhões de velhices
Pássaros nos traços de um oco
[Caiamento dos timbres]
Som branquiço chupado
Nas horas de então
Qualquer cubículo serve
Qualquer desenho
Qualquer cubículo serve
Qualquer desenho
Soluço morno da
fumaça
Meia pauta
Para todos os males digestivos
Para todos os males digestivos
No topo de uma
corda hipnotizada
[Qualquer sincretismo é sincero
E real]
[Qualquer sincretismo é sincero
E real]
Daqui do auto alto
É possível ver tão longe
Que se enxerga o futuro
É possível ver tão longe
Que se enxerga o futuro
Tragam menos
mantimento
E mais munição
E mais munição
Idólatras
Doentes
Maridos
Navegou-se quase três minutos
atrás de terra
Doentes
Maridos
Navegou-se quase três minutos
atrás de terra
[Num poema de
cores
Todo contraste será castigado]
Todo contraste será castigado]
Por desconhecer o
que era barco
E o que água
Inexistiram nos corpos do tempo
E o que água
Inexistiram nos corpos do tempo
E cantou-se músicas
de bichos
Pra aguar o silêncio
Pra aguar o silêncio
sou pró daqueles que lutam para inserir todo e qualquer tipo de manifestação poética nas ruas, nas salas, cabeças, corpos e outros organismos
simpáticos e para simpáticos que constituem a sociedade (o que seriam delas sem
os poetas?).
continuo sendo contra os que desejam colocar a poesia no
paraíso e a favor daqueles que precisam trazer a poesia pra perto, bem perto,
no reino dos que não são deuses.
sem dúvidas o cientista heyk é pró-eta naquilo que faz:
ser amador.