quinta-feira, 28 de junho de 2012

sô pró


sou contra aqueles que acreditam que a poesia é intocável.
para mim, quanto mais toques ela tiver mais excitada ela fica. o lápis pica duro e as palavras começam molhadas de prazer.
além de mim, acredito que existam tantos outros poetas,
ou poeteiros,
que torcem para que a poesia saia debaixo da saia da mamãe, levante a saia e mostre aquilo que ela tem de melhor (para quem quiser enxergar, é claro). 

as melhores poesias são aquelas que se escondem nos confins do uni verso. são aquelas que você só vai encontra-las no silêncio do metrô, no sinal da rio branco ou nos passos rápidos na avenida passos dos transeontens que vivem com pressa para chegar ao amanhã. são poesias que nos chegam como um sopro (ninguém escuta um sopro).

o mineiro heyk pimenta sopra esse sopro poético.
(haja fôlego!).

“Eu sopro
 o sopro”

em seu livro de poemas intitulado “sopro sopro”,
 o peta contemporâneo e com tempo errôneo,
caminha pelas selvas da cidade em busca de poesia!
como no poema de nome “A rua tempo”, onde ele “mais que marginal imaginário” caminha pela voluntários enquanto “inventa romances bailarinos”.

os “pregos do silêncio”, o “desejo, prisão e exílio”, os” tempos de febre”, tudo se torna poesia sob olhar desse cientista social que luta por um lugar da poesia na sociedade.
para que isso ocorra, será preciso que ele, assim como gullar e piva (só para mencionar rapidamente), entre no ventre da terra.
é dentro do organismo vivo (ou sistema, como queiram chama-lo) que o poeta pimenta porreta busca a poesia em todos os tipos de corpos:


Soluço morno da fumaça

Todos os opostos se encontram num salto vaginal 
Místicos e angustiados reúnem pregos pra mascar com fumo
Duas calçadas separaram os verbos

Enxugou-se o diário até virar parágrafo
De parágrafo foi à palavra
E com as novas notícias
 a interjeição pretende virar silêncio

[a tradução inventa o sentimento]
sentir é o silêncio do esgotamento

Quatro
Milhões de velhices
Pássaros nos traços de um oco
[Caiamento dos timbres]
Som branquiço chupado
Nas horas de então
Qualquer cubículo serve
Qualquer desenho

Soluço morno da fumaça

Meia pauta
Para todos os males digestivos

No topo de uma corda hipnotizada
[Qualquer sincretismo é sincero
E real]

Daqui do auto alto
É possível ver tão longe
Que se enxerga o futuro

Tragam menos mantimento
E mais munição

Idólatras
Doentes
Maridos
Navegou-se quase três minutos
                                           atrás de terra

[Num poema de cores
Todo contraste será castigado]

Por desconhecer o que era barco
E o que água
Inexistiram nos corpos do tempo

E cantou-se músicas de bichos
Pra aguar o silêncio


sou pró daqueles que lutam para inserir todo e qualquer tipo de manifestação poética nas ruas, nas salas, cabeças, corpos e outros organismos simpáticos e para simpáticos que constituem a sociedade (o que seriam delas sem os poetas?).
continuo sendo contra os que desejam colocar a poesia no paraíso e a favor daqueles que precisam trazer a poesia pra perto, bem perto, no reino dos que não são deuses.

sem dúvidas o cientista heyk é pró-eta naquilo que faz: ser amador.