quarta-feira, 6 de julho de 2011

Elemento Amor

Não existe dose perfeita para se tomar um amor. Não existe jeito perfeito para se domar um amor. Não importa se você gosta de sua dose com gelo ou sem gelo, amar é sempre uma embriaguez que vem dos quatro cantos do mundo.

Um dilúvio ou um tsunami, em sua forma mais moderna de arrasar um lugar, o amor é uma das formas que o poder de Eros se transforma, levando tudo o que está à sua frente (por dentro ou por fora).

O inferno nem sempre são os outros, ele também pode ser nós mesmos. O amor é a chama que cresce em tantos poemas e frases românticas. Aquece o peito ou esquenta estradas frias, mas quando este foge de controle, é capaz de deixar cicatrizes e queimaduras que duram o resto da vida.

Todo relacionamento amoroso passa por terremotos e abalos cínicos. O amor é firme, é filme, é palpável, é papel que rasga com facilidade. Nem as árvores genealógicas estão livres de seus abalos. Um tremor é capaz de causar o temor em qualquer ser, seja ele um filósofo ou um simples homem do campo.

E se não bastassem todas as forças naturais devastadoras, o amor também pode vir como uma tempestade de vento, um tornado, tornando as coisas de pernas para o ar. Aquele mesmo vento capaz de refrescar o rosto dos cansados, é capaz de levar idéias, casas, cômodas e pensamentos cômodos para lugares bem longe do chão. A bagunça no final é terrível, nem sempre seu coração pode estar no mesmo lugar.

Os contos presentes retratam histórias (ou estórias?) que sofrem com as causas naturais do amor. E prova que somos seres frágeis diante de sua força e imensidão.

Nunca saberemos do que é feito o amor, tão pouco saberemos como nos proteger quando ele passar. Só nos resta escrever ou sonhar e para os que já sofreram com tal força, só lhes resta acordar.

Minha dose quente de uísque, com uma pedra de gelo para refrescar os ouvidos e os olhos dos leitores apaixonados por todos os elementos do amor.

Amores líquidos (parte 1)

Eles já se conheciam. Se conheciam no sentido de só se verem. Meros conhecidos do cotidiano. Meros ? Eros tem a sua parcela de culpa.

No primeiro dia em que se conheceram, ou, se viram, foi no cursinho de francês.

Enquanto Bernardo bebia água no bebedouro, Débora chegava suada e atrasada para a aula.

Parou atrás dele para matar a sede. Bernardo morreria por alguns segundos.

Ele tinha o hábito de acumular o último gole d água preso na boca. Era para poder ir bebendo aos poucos.

Ao virar-se, se viu diante daqueles dois olhos azuis encarando-o.

A testa da mina suava. Sua boca um pouco aberta, tentava pegar um pouco de ar para aliviar o calor.

Bernardo, com água na boca, não sabia se engolia toda aquela água ou se cuspia tudo na cara dela para aliviar o rosto suado e vermelho daquela bela criatura bicolor.

A boca dela estava entreaberta. Estava sussurrando o seu nome ? Estava lhe pedindo alguma coisa ?

Débora se assustou e ficou pensando se ele acabaria lhe cuspindo água na cara.

- Posso beber ? – perguntou ela um pouco assustada com a resposta do rapaz. Qualquer movimento em falso com a boca e ela estaria com a cara encharcada.

Ele engole a água mais do que deveria. Se engasgou com as próprias palavras.

- Claro. Só está um pouco quente.

Foram os segundos mais demorados de suas vidas.