segunda-feira, 11 de julho de 2011

Elemento Amor

Amores líquidos (parte II)

Bernardo nunca foi o mesmo após aquele dia. Passava a beber água constantemente e deixou de acumular àgua na boca voluntariamente para não correr o risco de se engasgar outra vez pelo o acaso das palavras molhadas.

Débora também mudou depois daquele dia. Passou a chegar mais cedo no curso. Não mudou o seu percurso e toda vez chegava para beber àgua. Não suava por causa do atraso, suava agora por outros motivos. Chegava mais cedo para estudar ou esfriar um pouco a cabeça.

Ela passava por uma maré ruim com o namorado Rodrigo. Amar é isso. Mas isso é assunto para uma outra história...

Bernardo era uma pessoa animada e dificilmente passava despercebido pelos olhares femininos. O que o rapaz queria mesmo, era se tornar o centro das atenções daqueles dois olhos azuis. Olhos que pareciam compenetrados demais em sua própria distração.

- Débora é sempre tão sozinha ?

- Ela é meio maluca.

Algumas pessoas não compreendem a solitude. Isso é o tipo de atitude de quem não consegue enxergar a beleza escondida na simplicidade das coisas.

Ninguém notava a beleza branca de mármore da Vênus de Millos. Débora era a própria personificação da poesia (nem toda poesia é só verso ou prosa.)

Ele ficava cada vez mais apaixonado por ela. Quem eram os verdadeiros malucos da história ?

Débora costumava deixar os cabelos mal presos por um lápis ou qualquer outro objeto que prendesse de modo insignificante seus cabelos. Era um modo de despertar a atenção dos olhares atentos à imperfeição poética.

Bernardo era louco pelos pêlos soltos de sua nuca. Os fios soltos atrás da orelha balançando conforme a respiração do rapaz; a franja atrapalhando sua vista, pedindo para que alguém o jogasse ao conforto detrás das orelhas.

Ele assoprava de longe numa tentativa do vento formar uma mão e acariciar o rosto da menina de Vênus.

Sentia-se como os demais objetos em volta dela: paralisados, insignificantes até o momento em que ela os toca.

Seu coração acordava e bombeava sangue sempre que os olhos dela vinham lhe cumprimentar. Às vezes bombeava sangue mais do que deveria e seu roso acabava por mudar de cor.