terça-feira, 30 de agosto de 2011

Elemento Amor


Estrada para o inferno - 2° parte




Sem qualquer questão de lógica entre o tempo e o espaço, eles estão de noite em volta de uma piscina.


- Vamos nos refrescar?


- Só se você for primeiro.


- As damas primeiro.


- Então fique a vontade.



Os dois tiram a roupa e entram na piscina. As luzes vão se acendendo. É o tipo do momento sozinho, que só a escuridão é capaz de enxergar em silêncio.


Ela se levanta e se senta na borda da piscina (é o tipo do momento em que ele observa seu corpo em silêncio.)



- Como anda seu caminho com a menina?


- Como? – ele se distrai com tanto silêncio.


- A menina do teu curso.


- Débora?


- Acho que sim.


- Então é


- Então tá.


(silêncio)


- Então?


- Sim... Claro... Então, estava tudo indo tão bem, eu estava ficando cada vez mais apaixonado por ela sabe e ela com o seu jeitinho tímido... Ela é tímida, mas é um tipo de timidez que atrai mais do que repulsa sabe? É como se ela não quisesse ser o centro das atenções por ser tímida, mas ainda sim despertasse os olhares de todos por ser tímida, entende?


- Na lógica da maconha, isso parece fazer sentido.



Ariane fala rindo e aproveitando o efeito da maconha que fumaram um pouco antes dessa situação, que não foi dito ao leitor por motivo de força maior.



- E o seu namoro com Dahlia?


- O quê que tem?


- Como anda?


- Ta indo...


- É sempre assim.... Nesse caminho só existe "ir".... Não pensamos nunca em parar um pouco para descansar.


- Você é muito parecido comigo sabe. Seria o que os viajantes de estradas românticas chamariam de “alma gêmea”.



Ela cai de novo dentro da piscina e eles param um de frente para o outro.



- E se não fosse o amor, seria o quê?


A água da piscina começa a entrar num estado de ebulição. Estão aquecidos pela a água ou pela a situação?


Olhos vermelhos surgem na escuridão e resolvem assisti-los.


- Se não fosse o amor seria só amizade.



Eles disfarçam e desviam os olhares.



- Bendita amizade!- grita Bernardo tentando levar a cena para um outro local. E espantando todos aqueles demônios que os assistiam. A água esfria de repente.



Sexta-feira, os dois amigos, benditos amigos, resolvem esfriar suas cabeças em uma boate.


- Hoje eu quero beber até cair! cair até o inferno! – grita ele para quem quisesse e não quisesse ouvir.


- Nossa que coincidência, eu também! – completa ela o discurso.



Na varanda ele lhe faz uma proposta.



- Vamos fumar um?


- Um de cada vez...



Eles se acendem.



-Sabe, descobri que Débora tem namorado.


- Que chato hein.... E sabe o que foi que eu descobri?


- Que Dahlia também tem namorado?


- Não seu bobo, eu descobri que nosso relacionamento não anda bem...


- Então tá normal.


- Deveria estar.


- Isso acontece.


- Acontece que eu também não sei se quero continuar nesse caminho.


- Entendi


- Sabe o que eu acho que você devia fazer? Esperar o relacionamento dela com o namorado desandar um pouquinho para aproveitar o momento de carência.


- Sabe o que eu acho que você deveria fazer? Esquecer um pouco sua namorada.



As luzes vermelhas esquentam a pista de dança. O mormaço dos corpos em conjunto forma um grande inferninho onde todos querem o seu lugar.


Eles dançam como dois anjinhos. Anjinhos? Algumas mãos começam a explorar o corpo do outro. E aquilo tudo se transforma em demônios. Terminam com as suas bocas se olhando.



- Devemos atravessar esse limite? – pergunta Bernardo


- Pode ser um caminho sem volta...


O registro de incêndio aciona, jogando água para todos os lados.


Desde aquele dia, os dois amigos nunca mais tocaram no assunto daquela noite quente.


Mas ao se olharem no espelho, repararam as queimaduras em seus peitos feito tatuagens.


Alguma coisa havia se acendido para sempre.